Por Patricia Zengerle
WASHINGTON (Reuters) - O ex-diretor do FBI James Comey acusou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira, de lhe pedir para deixar de lado uma investigação sobre o ex-assessor de segurança nacional Michael Flynn, como parte de uma investigação sobre a alegada tentativa da Rússia de interferir nas eleições presidenciais de 2016.
Em uma dramática declaração por escrito, Comey afirmou que Trump disse a ele em uma reunião na Casa Branca em fevereiro: "Espero que você possa ver um caminho para deixar isso pra lá, deixar o Flynn de lado".
O testemunho de Comey, que foi demitido por Trump no mês passado, pressiona ainda mais o republicano cuja presidência está sendo ofuscada por alegações de que Moscou o ajudou a vencer as eleições do ano passado.
Trump demitiu Flynn em fevereiro em meio uma controvérsia sobre os contatos entre o general aposentado e o embaixador russo nos Estados Unidos. O FBI está investigando Flynn enquanto examina alegações de ligações entre a Rússia e a campanha de Trump.
A declaração de Comey, publicada no site do Comitê de Inteligência do Senado, afirma também que Trump ligou para ele em 30 de março para dizer que não tinha nada a ver com a Rússia e perguntou o que "nós poderíamos fazer para afastar a nuvem" da investigação do FBI sobre a Rússia.
Durante esse telefonema, Comey disse que informou Trump que o FBI não estava o investigando pessoalmente. "Ele repetidamente me disse: 'Precisamos divulgar essa informação'".
Comey disse que comunicou Trump em três ocasiões que ele não estava sendo investigado, confirmando uma declaração anterior do presidente.
Vários comitês do Congresso, bem como o FBI e um advogado especial, estão investigando relatos de que a Rússia tentou inclinar as eleições em favor de Trump, usando meios como invasão de emails de democratas. Trump e o Kremlin negaram separadamente qualquer colusão.
Alguns especialistas legais disseram que a declaração de Comey poderia ser usada para mostrar que Trump se envolveu em obstrução de justiça.
"Isso mostra que o presidente estava fazendo tudo o que podia para encerrar a investigação Flynn", disse Andrew Wright, professor de direito penal na Savannah Law School.
"EU PRECISO DE LEALDADE"
Comey disse que durante um jantar em 27 de janeiro entre os dois, uma semana após o presidente assumir a Casa Branca, Trump lhe disse: "eu preciso de lealdade, espero lealdade".
Comey vai apresentar seu testemunho pessoalmente em uma audiência muito antecipada no Comitê de Inteligência do Senado dos EUA na quinta-feira.
Durante o jantar, o presidente perguntou se ele queria continuar como diretor do FBI, segundo Comey. O ex-chefe do FBI disse que ficou preocupado de que Trump poderia estar tentando criar "algum tipo de relacionamento de proteção".
Após uma reunião de 14 de fevereiro sobre combate ao terrorismo no Salão Oval, Trump dispensou todos os participantes, exceto Comey, de acordo com o testemunho. O presidente então iniciou uma conversa sobre Flynn.
Comey citou Trump dizendo: "Espero que você possa ver um caminho para deixar isso pra lá, deixar o Flynn de lado. Ele é um bom sujeito. Espero que você possa deixar isso".
(Reportagem adicional de Tim (SA:TIMP3) Ahmann e Jeff Mason em Washington e Jan Wolfe em Nova York)