SÃO PAULO (Reuters) - O dólar saltava mais de 1 por cento nesta quinta-feira, chegando a se aproximar do patamar de 3,30 reais, com o placar da votação na Câmara dos Deputados indicando menor apoio político a Michel Temer, o que mantinha a cautela do mercado mesmo após a segunda denúncia contra o presidente ser barrada.
Às 15:33, o dólar avançava 1,23 por cento, a 3,2851 reais na venda, depois de bater 3,2898 reais na máxima do dia. O dólar futuro era negociado com alta de cerca de 1,50 por cento.
"Estou pessimista quanto à reforma da Previdência, o máximo que pode ser aprovado é uma reforma intraconstitucional", afirmou mais cedo o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
A Câmara dos Deputados rejeitou a segunda denúncia contra Temer na noite passada, mas sinalizou, com o placar abaixo do esperado pelo governo e a demora de parlamentares da base em marcar presença na votação, que o Planalto deve encontrar dificuldades para tocar sua agenda.
Para analistas ouvidos pela Reuters, de modo geral, o placar da votação agora --251 votos, contra 263 votos na primeira denúncia-- indica o esgotamento do capital político do governo, o que complica o já difícil cenário para aprovação de reformas, como a da Previdência.
O dólar começou o dia bem comportado, com leves variações frente ao real, mas o movimento de alta ganhou tração sobretudo no início da tarde.
"Quando o mercado fica tanto tempo parado quanto ficou nesses últimos meses, um movimento súbito acaba pegando muita gente de surpresa. O que era para ser uma marola acaba virando um tsunami", disse o operador de um banco internacional.
Desde meados de julho, a moeda norte-americana vinha sendo negociada basicamente numa banda entre 3,15 e 3,20 reais. Do final da semana passada para cá, no entanto, ela acumulava alta de mais de 2,5 por cento até a véspera, já com ceticismo sobre a cena política.
O cenário externo também contribuía para este movimento, com expectativa sobre a escolha do novo chair do Federal Reserve, banco central norte-americano.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vinha dizendo que ainda avaliava três nomes: o diretor do Fed Jerome Powell, o economista da Universidade de Stanford John Taylor e a atual chair do Fed, Janet Yellen.
Taylor é visto como mais conservador pelos mercados e sua escolha pode significar mais altas dos juros pelo Fed. Juros mais elevados nos EUA tendem a atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados hoje em outros mercados ao redor do mundo, o que pode resultar em fluxo de saída de capitais do Brasil.
Nesta manhã, no entanto, saíram notícias de que Yellen estaria fora da disputa e, assim, apenas Powell e Taylor estariam no radar ainda de Trump.
(Por Thaís Freitas e Laís Martins)