Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não deverá ter ajuda do Brasil em seus esforços para reduzir a oferta da commodity, uma vez que o país pretende impulsionar a produção e a exploração nos próximos anos para monetizar suas reservas, disse à Reuters o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa.
Na véspera, o secretário-geral da Opep, Mohammed Barkindo, pediu ajuda até mesmo dos Estados Unidos para reduzir a oferta global da commodity e disse que os produtores norte-americanos de petróleo de xisto deveriam se preocupar também com um eventual impacto de uma queda nos preços.
O ministro do Petróleo da Venezuela, Eulogio del Pino, disse no início de outubro que foram feitos convites para que entre mais 10 e 12 países se juntem aos esforços da Opep para cortar A produção. Segundo ele, os convidados são da América do Sul e da África.
"Houve um momento em que havia uma preocupação, no sentido de que essa é uma riqueza que deve ser explorada com cuidado, para que as próximas gerações se aproveitem dela. E cada vez mais é o contrário, a gente tem que acelerar o aproveitamento dessa riqueza", disse Pedrosa.
Ele disse não ter conhecimento de um contato da Opep para que o Brasil se junte aos esforços de corte de oferta.
Ainda assim, segundo Pedrosa, atender um chamado desses não faria sentido para o país, nem com uma redução na produção da Petrobras (SA:PETR4) e nem com a desaceleração da oferta de novas áreas para exploração.
"A Petrobras é uma empresa que hoje é conduzida pela lógica empresarial, não vejo interesse do país em decidir levar a Petrobras a uma decisão que não seja a que faz mais sentido para ela. E nem faz sentido a gente reduzir a oferta de áreas para exploração futura", disse Pedrosa.
Ele defendeu que o Brasil tem de aproveitar suas reservas antes que o mundo entre em uma "era renovável", em que outras tecnologias ganharão importância, como a energia solar e os carros elétricos, com impacto sobre a demanda por petróleo.
"A idade da pedra não acabou por falta de pedra, e a idade do petróleo não acabará por falta de petróleo. Começou a haver uma corrida para aproveitar o recurso que se tem, porque lá na frente ele pode não ter valor", adicionou o secretário.
A produção de petróleo do Brasil em agosto somou 2,576 milhões de barris por dia, com queda de 1,3 por cento ante igual mês de 2016, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A título de comparação, a Rússia, líder global em produção, registrou a extração de 10,9 milhões de barris por dia em petróleo em agosto.
A Petrobras responde por 94 por cento da produção brasileira, segundo a ANP, em um ranking com os maiores operadores do país, seguida pela norueguesa Statoil, com 3 por cento, e a Shell, com 1,3 por cento.
Do lado da oferta de áreas para exploração e produção, o Brasil já possui rodadas de licitação agendadas para 2017, 2018 e 2019, e há planos para outras.
O secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Márcio Félix, disse nesta semana que o governo avalia sinalizar a realização de ao menos dois leilões de novas áreas por ano também para 2020 e 2021.
Além disso, está em avaliação a ideia de agendar leilões para vender os direitos da exploração dos excedentes da chamada Cessão Onerosa, em que a Petrobras fechou contrato para explorar 5 bilhões de barris de óleo equivalente sem licitação.
Segundo Félix, a área da cessão onerosa pode ter de 5 a 10 bilhões de barris além dos cedidos à Petrobras. O governo avalia vender essas reservas possivelmente em mais de um leilão, com o primeiro deles em 2018.