Brasil vê questões protecionistas da França e desincentivo à proteção ambiental

Publicado 22.09.2020, 17:37
© Reuters. Área de fronteira entre produção agrícola e floresta amazônia em Mato Grosso
ZS
-
ZC
-

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil afirmou que um relatório do governo francês sobre o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia revela "reais preocupações" protecionistas daqueles que o encomendaram ao tratar das concessões agrícolas, segundo nota conjunta divulgada pelos ministérios das Relações Exteriores e da Agricultura nesta terça-feira.

A França, um dos maiores produtores agrícolas da União Europeia, tem sido um dos principais desafiantes do acordo com o Mercosul, bloco econômico que tem potências agrícolas como Brasil e Argentina.

Além disso, o país europeu tem expressado preocupações sobre a sustentabilidade ambiental e social da agropecuária brasileira, mas a posição francesa questionando o acordo Mercosul-UE poderia, na verdade, agir como um desincentivo a esforços de proteção ambiental no Brasil, segundo o comunicado do governo brasileiro.

Na última sexta-feira, o governo francês afirmou que um novo relatório sobre o desmatamento no Brasil confirmou sua oposição à versão atual do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

O país europeu, segundo afirmação do gabinete do primeiro-ministro Jean Castex, ainda trabalhará com outros parceiros da UE para definir as condições ambientais necessárias para a retomada das negociações comerciais.

Em resposta, o Brasil afirmou que, em primeiro lugar, o acordo Mercosul-União Europeia "não representa qualquer ameaça ao meio ambiente, à saúde humana e aos direitos sociais".

"Ao contrário, reforça compromissos multilaterais e agrega as melhores práticas na matéria", destacou.

"Causa estranheza... que o relatório esteja focado em produtos de alta sensibilidade agrícola europeia e valha-se de argumentos não comerciais (como o suposto risco de desflorestamento) para garantir proteção econômica a certos produtores", disse o governo brasileiro em comunicado.

O relatório, segundo o governo brasileiro, apresenta argumentos não baseados em critérios técnicos, que sugerem que a entrada em vigor do citado acordo terá impacto ambiental negativo, ao alegadamente ocasionar elevação do desmatamento e pôr em xeque os esforços para combater a mudança do clima ao amparo de acordos internacionais.

O Brasil afirmou que as críticas francesas têm como cerne a relação entre as atividades agropecuárias e o desmatamento, mas que o país é capaz de aumentar a produção de soja, milho e carnes concomitantemente à redução do desflorestamento, utilizando especialmente inovações tecnológicas.

"O Acordo Mercosul-UE reconhece a importante relação entre o desenvolvimento social e econômico e a proteção do meio ambiente, ao dispor... que a liberalização comercial poderá dar contribuição positiva para o desenvolvimento sustentável nos países do Mercosul", disse o governo, acrescentando que os autores do relatório "parecem desconhecer" o sistema de rastreabilidade para exportações de carnes.

As divergências entre Brasil e França ocorrem em momento em que o desmatamento em importantes biomas brasileiros --como Amazônia e Pantanal-- ganha destaque, especialmente diante dos focos de incêndios nas áreas.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, até segunda-feira o bioma amazônico havia registrado 71.673 focos de incêndio em 2020, alta de 12% em relação a igual período de 2019, enquanto o Pantanal apurava aumento de 185% no número de focos de queimadas, totalizando 16.119.

O Brasil disse refutar afirmações de que o acordo aumentaria a destruição da floresta amazônica, alegando que o pacto amplia os compromissos de direitos ambiental e comercial para regular fluxos comerciais atuais e futuros e garantir a sustentabilidade.

"A não entrada em vigor do Acordo Mercosul-UE passaria mensagem negativa e estabeleceria claro desincentivo aos esforços do país para fortalecer ainda mais sua legislação ambiental", concluiu o Brasil.

© Reuters. Área de fronteira entre produção agrícola e floresta amazônia em Mato Grosso

Mercosul e UE chegaram a um acordo comercial em julho de 2019, após mais de uma década de negociações. O pacto, porém, precisa ser ratificado pelos 27 países membros do Parlamento Europeu e pelos Congressos dos quatro membros do Mercosul. Na Europa, além da França, Áustria e Holanda já indicaram que podem não ratificá-lo.

(Por Ricardo Brito e Gabriel Araujo)

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.