Distribuidoras de energia dizem que tarifa não cobre custo nem com alta em bandeiras

Publicado 26.10.2017, 15:22
© Reuters. Torres de distribuição de energia em Brasília, Brasil

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - As distribuidoras de eletricidade do país têm sofrido com custos maiores do que arrecadam junto aos consumidores nas contas de luz, e a situação deve permanecer mesmo após uma elevação no valor das bandeiras tarifárias que pesam sobre as faturas, disse à Reuters o presidente da associação que representa investidores do setor.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou nesta semana uma alta de quase 40 por cento nos custos da bandeira tarifária vermelha nível 2, atualmente vigente devido à falta de chuva na área dos reservatórios das hidrelétricas, principal fonte de energia do Brasil.[nL2N1MZ1DH]

Criadas em 2015, as bandeiras tarifárias geram uma cobrança adicional nas contas quando a oferta de energia é baixa, para incentivar um consumo menor e ao mesmo tempo arrecadar recursos para que as distribuidoras paguem pela geração de termelétricas mais caras, que têm sido acionadas devido à situação crítica das usinas hídricas.

O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, afirmou que a mudança nas bandeiras tarifárias gera uma receita adicional de cerca de 1 bilhão de reais para as distribuidoras até o final do ano, enquanto o custo estimado com a compra de energia térmica no período é de cerca de 6 bilhões de reais.

"Só isso não resolve o problema. Serão necessárias medidas adicionais", disse Leite.

Ele afirmou que as distribuidoras já apresentaram uma proposta à Aneel para resolver o déficit de caixa com o menor impacto possível sobre os consumidores, mas ainda assim o problema poderá gerar elevações adicionais nas tarifas.

O cenário deve-se basicamente ao baixo nível dos reservatórios das usinas hídricas, que exige um uso mais intenso de termelétricas que o esperado inicialmente, com custos mais elevados e que não estavam previstos nas tarifas.

Segundo Leite, existe o risco de as distribuidoras não terem recursos para pagar a energia gerada pelas termelétricas.

As distribuidoras devem pagar as térmicas em 8 e 9 de novembro, quando a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) realizará a liquidação das operações do mercado de energia referentes a setembro.

"Estamos pedindo para postergar a liquidação, do início para o final do mês, para dar mais tempo de as distribuidoras arrecadarem. Estamos sugerindo no último dia útil de novembro", disse Leite.

As distribuidoras também querem convencer a Aneel a repassar a elas recursos de um fundo setorial, a Conta de Energia de Reserva, abastecida com recursos gerados pela venda da energia de usinas de energia renovável contratadas pelo governo nos chamados "leilões de reserva".

Leite estimou que o fundo setorial poderia liberar cerca de 1 bilhão de reais adicionais para as distribuidoras.

Mesmo com essas medidas, segundo o dirigente da Abradee, algumas concessionárias ainda podem precisar de um reajuste extraordinário de tarifas para fechar o ano.

"Ainda não resolve a situação de algumas distribuidoras... nesse caso, estaríamos falando de uma revisão extraordinária... para que a distribuidora possa se reequilibrar e evitar uma situação de inadimplência", afirmou o dirigente, sem citar empresas.

Procurada pela Reuters, a CCEE, que administra a Conta de Energia de Reserva, informou que o fundo tem saldo atual de 981 milhões de reais. A CCEE disse que está ciente do pleito das distribuidoras e aguarda decisão da Aneel.

MERCADO TRAVADO?

Uma inadimplência de distribuidoras teria potencial de praticamente travar o mercado de energia, uma vez que a liquidação financeira de operações realizada mensalmente pela CCEE já vem apresentando elevados valores em abertos desde meados de 2015.

Em outubro, quando foram liquidadas as operações referentes a agosto, a CCEE conseguiu arrecadar apenas 2,54 bilhões de reais, de 6,82 bilhões cobrados junto aos agentes de mercado. [nL2N1ML115]

A maior parte dos valores não pagos, ou 3,7 bilhões de reais, está associada também à menor geração das hidrelétricas. Isso porque empresas que operam usinas hídricas conseguiram liminares na Justiça que as livram de arcar com os débitos.

O governo tem buscado um acordo para acabar com a briga judicial, e uma proposta nesse sentido deve constar de uma medida provisória em preparação no Ministério de Minas e Energia.

CRISE SE REPETE

A Aneel irá analisar os pleitos das distribuidoras em reunião de diretoria na próxima terça-feira, segundo pauta do encontro divulgada nesta quinta-feira pela agência.

Para Leite, da Abradee, a situação lembra uma crise de fluxo de caixa enfrentada pelas distribuidoras em 2014, também devido a uma elevada geração térmica necessária naquele ano.

Na época, o governo da então presidente Dilma Rousseff chegou a autorizar a CCEE a contratar empréstimos bilionários junto a bancos em nome das empresas do setor.

"É uma situação semelhante, mas em proporção menor", apontou Leite.

© Reuters. Torres de distribuição de energia em Brasília, Brasil

Os empréstimos tomados pela CCEE em nome das distribuidoras somaram 21,75 bilhões, em operações contratadas em 2014 e 2015. O custo do pagamento desses financiamentos será repassado às tarifas até 2020.

(Edição de Roberto Samora e José Roberto Gomes)

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