Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A demanda por energia elétrica do Brasil deverá retomar o crescimento apenas em 2017, e ainda de maneira tímida, afirmou à Reuters nesta quinta-feira o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim.
O leve aumento na demanda no ano que vem ocorreria após o país registrar em 2015 a primeira queda de consumo em seis anos, com estimativa de nova retração em 2016, diante de uma recessão econômica.
"Provavelmente no ano que vem, muito pouco ainda, mas começa a subir", disse Tolmasquim, que comanda o órgão de planejamento do Ministério de Minas e Energia. Ele não citou números.
Com a demanda em baixa, a EPE acredita que os leilões de cotratação de energia A-3 e A-5, que visam atender a necessidade futura das distribuidoras, deverão ser "pequenos".
Para manter a expansão do sistema mesmo em meio a esse cenário, a EPE pretende realizar até três leilões de energia de reserva em 2016. Esses leilões, que têm como objetivo aumentar a segurança do sistema, não dependem da demanda das distribuidoras.
"Estamos pensando em fazer dois leilões de reserva, mas estudando a possibilidade de um terceiro... aí sim, certamente teremos uma demanda para contratar essas usinas... a ideia é manter uma demanda para a cadeia produtiva", afirmou Tolmasquim.
O primeiro leilão de reserva, estimado para julho, contrataria pequenas centrais hidrelétricas (CGHs e PCHs) e usinas solares; o segundo, previsto para outubro, seria voltado a solares e parques eólicos.
Já o terceiro, ainda em fase de estudos e sem data prevista, seria um leilão duplo, envolvendo geração e linhas de transmissão, e específico para usinas eólicas.
"Faria o leilão de geração e logo em seguida o de trasnsmissão, mas os editais sairiam juntos... a gente poderia fazer os dois leilões concatenados", disse Tolmasquim.
Ele explicou que um dos objetivos é possibilitar que os investidores eólicos entrem no setor de transmissão para garantir que suas usinas serão conectadas à rede, caso as linhas não atraiam outros interessados.
"Você contrata a geração e fica condicionada à transmissão... se o lote de transmissão der vazio, o contrato de geração não é assinado".
RENOVÁVEIS
Segundo Tolmasquim, as fontes renováveis, como hidrelétricas, eólicas, solares e biomassa, serão a prioridade na expansão do sistema brasileiro.
Nesse sentido, existe um compromisso do governo de contratar ao menos 1 gigawatt em usinas solares por ano, para viabilizar a entrada de investidores e fabricantes do segmento do país.
"Pelo menos isso... a gente vai sempre garantir uma contratação mínima todo ano para garantir uma demanda para o setor".
O governo também buscará viabilizar termelétricas a gás natural, por serem usinas mais flexíveis, que podem ser acionadas a qualquer momento.
O presidente da EPE ainda comentou que vê grande interesse dos investidores pelo setor elétrico do Brasil mesmo em meio à recessão e à retração na demanda.
"O interesse é enorme, é muito grande, em todas as fontes... os estrangeiros têm um interesse muito grande... tirando a questão conjuntural, o Brasil é um dos países que tem potencial de crecimento de demanda grande".
Entre os possíveis interessados, Tolmasquim citou elétricas chinesas e europeias, além de fundos de investimento de Estados Unidos e Canadá.
A retração do consumo de energia no Brasil em 2015, de 2,1 por cento, foi a primeira desde 2009, quando foi registrada queda de 1,1 por cento.
O ano passado ainda registrou o primeiro recuo no consumo de energia das residências desde 2002, ano em que o país ainda foi afetado por um racionamento de eletricidade iniciado em 2001.
"A gente agora está com problema de crescimento, mas olhando para o longo prazo, vai voltar a crescer (a demanda)... então todo mundo olha com interesse para o mercado brasileiro".