Por Sybille de La Hamaide
PARIS (Reuters) - As disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China beneficiaram o Brasil até agora, mas podem se provar prejudiciais no longo prazo, já que os altos preços dos grãos farão as exportações do país menos competitivas, disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.
Analistas e operadores estão apostando que os produtores brasileiros vão se beneficiar dos impostos que a China impôs sobre uma série de produtos norte-americanos, de soja à carne suína congelada, em resposta à decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de colocar tarifas sobre aço e alumínio de países como a China.
Porém, Maggi teme que a maior demanda por soja elevará tanto os preços locais que prejudicará a competitividade do Brasil e acabará comprometendo sua participação de mercado.
"Estou muito preocupado. No curto prazo, o Brasil está ganhando muito, é verdade", disse Maggi à Reuters em entrevista em Paris.
"Mas no médio prazo e no longo prazo isso pode ser um problema, porque quase tudo que exportamos, seja frango ou carne suína, depende da soja como alimento", disse ele.
Os preços brasileiros caíram acentuadamente nos mercados internacionais, ajudados pela moeda brasileira mais fraca, porém uma maior demanda empurrou os preços locais para cima, deixando a ração mais cara para a produção nacional de aves e suínos.
Em moeda local, uma saca de soja de 60kg subiu 8,3 por cento, para 85,97 reais desde março, de acordo com dados de preço da B3, a bolsa de ações e futuros do Brasil.
"E se a soja subir no Brasil isso significa que é menos cara comparativamente ao dólar e, como os EUA também são produtores de aves e suínos, eles seriam mais competitivos e isso nos penalizaria", disse Maggi.
O Brasil é o maior exportador de aves do mundo.
"Em algum momento, a China e os EUA vão entrar em acordo, mas nós vamos potencialmente perder alguns mercados."
A guerra comercial entre os EUA e a China está "em pausa" depois que as duas maiores economias do mundo concordaram em desistir das tarifas ameaçadas enquanto trabalham em um acordo comercial mais amplo, disse o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnunchin, no domingo.
Separadamente, Maggi disse que ele acredita que haverá um acordo entre a União Europeia e o Mercosul sobre questões agrícolas até o fim do ano.
(Por Sybille de La Hamaide; Reportagem adicional por Ana Mano, em São Paulo)