Por Ron Bousso e Dmitry Zhdannikov
SÃO PAULO (Reuters) - O CEO da BP, Bob Dudley, prevê que uma "inundação" de petróleo "shale" dos Estados Unidos e a retomada de produção da Opep vão esfriar o mercado de petróleo depois de a commodity subir acima de 80 dólares por barril nesta semana.
A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de sair de um acordo nuclear internacional com o Irã e lançar sanções ao país integrante da Opep, bem como a forte queda de produção na Venezuela, ajudaram a elevar os preços do petróleo a máximas desde 2014.
Mas a BP vê o preço do petróleo caindo para entre 50 e 65 dólares por barril devido à crescente produção de "shale" e à capacidade de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de aumentar a produção, disse Dudley à Reuters.
"Claramente, a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã trouxe muita incerteza ao mercado", disse ele em uma entrevista.
As exportações de petróleo do Irã, o terceiro maior membro da Opep, podem cair entre 300 mil a 1 milhão de barris por dia (bpd) como resultado das sanções dos EUA, disse o CEO, citando previsões internas da BP.
Dudley disse esperar que esse número fique "na extremidade inferior" do intervalo.
POUCO SAUDÁVEL
A recuperação de 30 por cento nos preços do petróleo desde fevereiro deu forte apoio a companhias petrolíferas como a BP, cujos lucros se recuperaram no ano passado após três anos de derrocada no mercado.
A Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês) aumentou neste mês sua previsão de crescimento para a produção nacional de petróleo em 2018, para um recorde histórico de 11,17 milhões de bpd, uma vez que as perfuradoras de "shale" têm acelerado a atividade.
O aumento na produção dos EUA foi compensado por cortes profundos na oferta realizados pela Opep e outros aliados, incluindo a Rússia, há mais de um ano.
A líder de fato da Opep, Arábia Saudita, assegurou aos consumidores que o mundo teria suprimentos adequados mesmo se as exportações do Irã caíssem drasticamente.
Até agora, os mercados conseguiram absorver o aumento do preço do petróleo sem afetar o crescimento da demanda, mas Dudley disse que um preço sustentado acima de 80 dólares por barril não seria saudável.
"Dois anos atrás, quando o preço era 27 dólares, era ótimo para o crescimento global, os motores das economias consumidoras, mas era terrível para os países produtores e isso levou esses países a não poderem comprar coisas também. Isso não foi um preço saudável."
"Acho que quando você chegar acima de 80 dólares (o barril), não é um preço saudável também."
Embora a Agência Internacional de Energia tenha cortado sua perspectiva para o crescimento da demanda por petróleo em 2018 devido à alta nos preços, a BP ainda espera que o consumo se expanda em 1,7 milhão de barris por dia, estendendo um período de forte crescimento.
O mundo experimentou uma década sem precedentes de crescimento econômico que provavelmente continuará mesmo com sanções e tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, disse Dudley.
"Estamos prestes a ver fatores políticos criando deslocamentos comerciais, sanções e coisas do tipo. Eles terão impactos aqui e ali, mas as taxas de crescimento econômico geral parecem não estar superaquecidas", disse.