Por Gulsen Solaker, Tuvan Gumrukcu e Daren Butler
ANCARA/ISTAMBUL, 17 Abr (Reuters) – Em tom desafiador, o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, repudiou a "mentalidade de cruzado" do Ocidente nesta segunda-feira depois que monitores europeus criticaram um referendo que lhe garantiu amplos poderes e que ele venceu por uma margem estreita que expôs as divisões da nação.
Dirigindo-se a uma multidão de apoiadores munidos de bandeiras dos degraus de seu palácio em Ancara, Erdogan disse aos observadores da eleição que "fiquem falando sozinhos" e que não será tão importante para a Turquia se a União Europeia interromper as conversas sobre sua filiação.
A votação de domingo encerrou qualquer debate sobre a adoção de uma Presidência mais forte, disse Erdogan, prometendo que a implantação de reformas irá começar de imediato – mas o principal partido da oposição rejeitou o resultado e pediu para que a consulta seja anulada.
Milhares de pessoas marcharam por ao menos três bairros de Istambul, algumas entoando "Erdogan Ladrão", "Não à Presidência" e "Isto é só o começo" depois de convocações de protestos em várias cidades pelas redes sociais.
A Turquia ampliou o estado de emergência por três meses no país, na terceira extensão depois de uma tentativa de golpe, em julho.
As autoridades eleitorais disseram que resultados preliminares revelam que 51,4 por cento dos eleitores apoiaram a maior reformulação da política turca desde a fundação da república moderna.
Erdogan afirma que concentrar o poder nas mãos do presidente é vital para evitar a instabilidade, mas a vitória apertada pode ter o efeito oposto: aumentar a volatilidade de um país que ultimamente sobreviveu a um golpe de Estado fracassado, ataques de islâmicos, uma insurgência curda, distúrbios civis e uma guerra na vizinha Síria.
O desfecho da eleição desnudou a profunda divisão entre as classes médias urbanas, que veem seu futuro como parte de uma maioria europeia, e os pobres devotos de áreas rurais que simpatizam com a mão de ferro de Erdogan. O presidente reiterou sua prontidão para restaurar a pena de morte em várias aparições nesta segunda-feira, o que na prática poria fim a décadas de esforços da Turquia para se filiar à UE.
"A mentalidade de cruzado do Ocidente e de seus servos em casa nos atacaram", disse ele a uma multidão, ao chegar ao aeroporto de Ancara, em reação à avaliação dos monitores.
A missão de observadores do Conselho da Europa, que tem 47 membros e é a principal entidade de direitos humanos do continente, disse que o referendo foi uma disputa desigual. O apoio ao "Sim" dominou a cobertura midiática, e a prisão de jornalistas e o fechamento de veículos de imprensa silenciou outras opiniões, afirmaram os monitores.
A campanha agressiva e a vitória por pouca vantagem expuseram as discórdias intensas do país, onde as três cidades mais importantes e o sudeste de maioria curda provavelmente votaram no "Não". Os números oficiais são esperados em 12 dias.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e seu ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, disseram que "o resultado apertado do referendo mostra o quão dividida a sociedade turca está, e isso significa uma grande responsabilidade para a liderança turca e para o presidente Erdogan pessoalmente". Com as mudanças, Erdogan pode se manter no poder até 2019 ou além.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, telefonou a Erdogan para cumprimentá-lo pela vitória no referendo.