Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de carnes do Brasil confia na fiscalização que garante exportações para a Rússia livres de um aditivo alimentar e espera uma manifestação oficial do país euroasiático para tomar eventuais medidas corretivas quanto a isso, caso algum problema tenha sido detectado, disseram nesta quinta-feira lideranças do segmento.
A Reuters noticiou na quarta-feira que a Rússia estaria analisando banir as importações de carnes suína e bovina do Brasil após encontrar o aditivo ractopamina em alguns carregamentos.
A ractopamina, utilizada como um ingrediente à ração animal, é totalmente proibida na Rússia, embora alguns países considerem que é segura para consumo humano.
"Todos os frigoríficos brasileiros são obrigados a fazer controle de ractopamina em todo o gado vivo... Nossos problemas de inconformidades, pelo que tenho lembrança, não envolvem a ractopamina", afirmou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, Antônio Jorge Camardelli, que fala pelos exportadores de carne bovina.
Conforme ele, o setor de carne bovina, que embarca entre 7 mil e 9 mil toneladas de produto para a Rússia por mês, está "bastante confortável e acredita que o governo tem como comprovar" que segue as regras relacionadas ao uso de ractopamina.
Camardelli também disse ser "peremptoriamente contra" o raciocínio de que a Rússia estaria realizando algum tipo de pressão para que o Brasil compre seus produtos.
Os russos, grandes compradores de carnes do Brasil, gostariam de vender trigo aos brasileiros, que figuram entre os maiores importadores do cereal, mas são abastecidos em sua maioria pelo produto do Mercosul, com isenção de tarifa.
"Temos plena ciência e comprovação do bom relacionamento entre os governos. Tanto é que neste ano (foram enviadas) três ou quatro missões (à Rússia) para trocar informações no sentido de viabilizar as importações, não só de cá para lá, mas também de lá para cá".
O Brasil chegou a avaliar neste ano a isenção de tarifa de importação de trigo para uma cota de 750 mil toneladas do produto de fora do Mercosul, em uma decisão que poderia favorecer países exportadores como Estados Unidos e Rússia.
SUÍNOS
Em relação à carne suína, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou estar em contato com o Ministério da Agricultura e que também segue as determinações russas sobre ractopamina.
"O Brasil apresentou todas as comprovações de que a carne destinada ao mercado russo é produzida sem esse aditivo", afirmou o presidente-executivo da ABPA, Francisco Turra.
"Como principal parceiro da Rússia no setor, responsável por quase 90 por cento da carne suína importada pelo país, a suinocultura brasileira reafirma seu interesse na manutenção das exportações, que são importantes para o Brasil e para a Rússia", acrescentou.
Principal importadora de carne suína do Brasil, a Rússia foi destino de 210,3 mil toneladas de janeiro a setembro, alta de 11,7 por cento, segundo a ABPA. O país é responsável por cerca de 40 por cento das vendas brasileiras em 2017.
No passado, a Rússia chegou a suspender algumas compras do Brasil e de boa parte das exportações dos Estados Unidos, alegando o uso de ractopamina.
A Reuters também entrou em contato com o Ministério da Agricultura, mas não obteve um comentário imediato sobre a análise russa a respeito das carnes nem sobre como estão as negociações em torno do trigo.