SÃO PAULO (Reuters) - A região centro-sul do Brasil deve moer menos cana-de-açúcar na segunda metade de maio do que na primeira parte do mês, como resultado da escassez de combustíveis devido aos protestos de caminhoneiros por todo o país, desde segunda-feira, disseram donos de usinas e analistas nesta sexta-feira.
Várias usinas pararam sua colheita mecanizada na região e muitas outras estão com seus estoques de diesel quase no fim, já que os protestos contra a alta dos preços do combustível continuam pelo quinto dia, bloqueando dezenas de rodovias no país.
"Eu consegui arranjar algum combustível para poder continuar a colheita, mas eu só tenho umas quatro horas de sobra com as máquinas funcionando", disse Gerson Ferreira, diretor da Usina Itajobi, em Catanduva (SP).
Ferreira espera que as atividades de colheita parem durante o fim de semana e não tem certeza de quando poderiam recomeçar, dependendo do fim dos protestos dos caminhoneiros e da normalização dos serviços de fornecimento de combustível.
Sua situação parece exemplificar o que está acontecendo na maior parte das outras usinas no principal cinturão de cana-de-açúcar do Brasil.
"Muitos dos nossos clientes pararam ou estão a ponto de parar de colher", disse Willian Orzari Hernandes, consultor de açúcar e etanol na FG/A, uma empresa que atua em Ribeirão Preto, importante polo açucareiro do Brasil.
Ele disse que a região centro-sul normalmente colhe cerca de 3 milhões de toneladas de cana por dia no atual período de pico.
Se os protestos terminarem no começo da semana que vem, levando a um retorno lento do fornecimento, isso poderia significar perder cinco dias de processamento ou mais.
A maio parte das plantações no centro-sul do maior produtor global de açúcar no mundo mudou para a colheita totalmente mecanizada alguns anos atrás, cumprindo uma legislação mais rigorosa que buscava acabar com a queima de cana e a colheita manual.
Quando a colheita para, as operações das usinas tendem a acompanhar o movimento, já que a quantidade de cana pronta para processamento nas usinas geralmente dura apenas entre 12 e 18 horas, disse Hernandes.
A associação da indústria de cana, a Unica, disse que muitas usinas também não conseguiram transportar sua produção --açúcar e etanol-- para portos ou para distribuidores de combustível, portanto os compradores estrangeiros devem registrar um fluxo reduzido nos próximos dias ou semanas.
O principal porto de exportação de açúcar do Brasil, em Santos, continua fortemente impactado pelos protestos, incapaz de receber produtos para carregar navios, disse a autoridade portuária na sexta-feira.
(Por Marcelo Teixeira)