Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Cerca de 2,5 milhões de bovinos criados em confinamento, ou 60 por cento dos animais confinados no Brasil em 2014, chegarão ao mercado para abate nos últimos três meses do ano, mas nem essa oferta adicional será capaz de pressionar significativamente os preços da arroba do boi gordo, que se encontram em patamares recordes.
A avaliação é do gerente-executivo da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Bruno de Jesus Andrade, para quem os pecuaristas vão seguir forçando novas altas, o que tende a apertar mais as margens da indústria, uma vez que não há alternativa considerável de gado de pasto para os frigoríficos neste período do ano.
O preço da arroba bovina tem batido recordes na BM&FBovespa, assim como no mercado físico, após um ano em que as pastagens foram prejudicadas pela falta histórica de chuvas no verão, afetando a engorda dos animais.
"O produtor está testando os limites de alta cada vez mais, segurando os animais... Não vejo queda nos preços por conta da oferta de animais confinados", disse Andrade em entrevista à Reuters nesta terça-feira.
Apesar de representar apenas 10 por cento dos abates do país --onde a criação é predominantemente extensiva--, o gado de confinamento entra de forma mais concentrada no mercado.
O preço no mercado físico paulista teve ligeira queda na segunda-feira, após uma máxima histórica nominal de 130,43 reais por arroba na sexta-feira, segundo Indicador Esalq/BM&FBovespa.
A cotação se aproximou da máxima de quase 135 reais de novembro de 2010 em valores corrigidos pela inflação do período.
Segundo Andrade, a queda do preço do milho, para mínimas em quatro anos no mercado interno, tem ajudado os produtores a segurar por mais tempo os animais no confinamento, visando maiores ganhos com a venda de gado mais pesado.
"O animal que seria terminado com 18 arrobas, ele acaba sendo terminado com 19, 20 arrobas", disse o executivo.
O indicador do milho, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), está em torno de 22 reais por saca de 60 kg, perto da menor cotação em cerca de quatro anos, com pressão da oferta grande do cereal no país e da derrocada dos preços internacionais pela supersafra que está sendo colhida nos Estados Unidos.
Por outro lado, disse o executivo da Assocon, a demanda por carne bovina no país, que está limitada pelos altos preços do produto, é o teto para os preços da arroba. "Não vejo (a arroba) subindo muito porque o limite é o consumidor", frisou ele, admitindo que poderá haver uma semana ou outra de maior pressão da oferta, mas nada que tire a sustentação do mercado.
A única incerteza vem de animais criados nos chamados "semiconfinamentos", os quais a Assocon não tem levantamentos.
PERSPECTIVAS
O gerente-executivo da associação avalia que o mercado deverá seguir firme até a entrada de maior número de bois de pasto no mercado, o que poderia acontecer apenas a partir de março.
Segundo ele, após a recuperação dos pastos em janeiro de 2015, com as chuvas chegando às regiões produtoras ao final de outubro, os animais só teriam peso suficiente para ir para o abate em maior número em março, quando o mercado bovino poderia passar a registrar quedas mais acentuadas de preços.