SÃO PAULO (Reuters) - O total de unidades processadoras de carnes suína e de aves paradas no Brasil em decorrência dos protestos de caminhoneiros aumentou para 120 nesta quinta-feira, de 78 na véspera, informou a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Conforme a entidade, os danos ao sistema produtivo "são graves e demandarão semanas até que se restabeleça o ritmo normal em algumas unidades produtoras".
"A situação nas granjas produtoras é gravíssima, com falta de insumos e risco iminente de fome para os animais", afirmou a ABPA, em nota, acrescentando que mais de 175 mil trabalhadores estão com as atividades suspensas.
Em Santa Catarina, um dos principais produtores nacionais dessas carnes, o risco é de "imprevisível impacto de ordem sanitária" em decorrência dos protestos, afirmaram o Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado (Sindicarne) e a Associação Catarinense de Avicultura (Acav).
"A ameaça atual e iminente é de perda massiva de ativos biológicos com início de mortandade nas principais regiões produtoras", alertaram as entidades, lembrando que Santa Catarina conta com um plantel de 5 milhões de suínos e 118 milhões de aves alojadas.
LEITE E RAÇÕES
Produtores no Sul começam a descartar o leite estocado nos resfriadores e das ordenhas diárias pela falta de captação pelas cooperativas e indústrias, uma vez que o transporte está comprometido, segundo informação da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Os protestos dos caminhoneiros contra a alta do diesel estão nesta quinta-feira em seu quarto dia seguido e afetam 23 Estados e o Distrito Federal.
O setor de rações também emitiu alertas quanto à situação no país.
"A continuidade e recrudescimento da mobilização dos caminhoneiros pode comprometer sobremaneira a entrega das rações e sal mineral para animais de produção, além dos alimentos para cães e gatos", afirmou o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
"Apesar de enviar todos os esforços possíveis, os empreendedores sofrem também com a interrupção do transporte de milho, farelo de soja, aditivos e outros insumos usados na produção."
COMBUSTÍVEIS
No Rio de Janeiro, só há combustível nos pontos de venda do Estado até o meio da tarde, disse o presidente do sindicato dos postos do Estado, Ronald Barroso.
"Já há cidades onde não há mais estoque de combustível, como em Volta Redonda", disse ele. "Os estoques são feitos para três dias, e como a greve já tem quatro dias começa a faltar", adicionou.
Em postos do interior e da região dos Lagos, motoristas dizem que o litro pode sair a quase 10 reais, devido à escassez do produto.
Na capital fluminense, há filas em postos de todas as regiões e alguns motoristas estão armazenando combustíveis em galões.
"As filas estão grandes e o estoque está no fim... nunca vi nada assim na história recente do país", disse Monica Gadelha, administradora de um posto da zona sul do Rio.
O transporte público no Rio de Janeiro está prejudicado com veículos circulando com a frota menor que a usual.
As barcas vão reduzir os horários da travessia Rio-Niterói a partir de sexta-feira.
Caminhoneiros mantêm protestos e bloqueios em estradas do Estado e há uma concentração na Refinaria Duque de Caxias e em um polo de distribuição próximo da unidade da Petrobras (SA:PETR4).
A situação de filas em postos de combustíveis se repete por todo o país.
(Por José Roberto Gomes; com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)