Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - Os protestos de caminhoneiros ainda se refletem sobre a agricultura do Brasil e podem impactar as produções de soja e trigo, disse a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta terça-feira, no primeiro relatório após as manifestações que afetaram diversos setores da economia nacional.
A greve, motivada pela alta do diesel e ocorrida na segunda metade de maio, atrapalhou o escoamento de grãos, interrompeu atividades em usinas de cana e processadoras de soja, além de gerar mortandade em granjas de aves. Os prejuízos foram bilionários, conforme entidades representativas.
De acordo com a Conab, os protestos também impossibilitaram "a entrega de produtos e, mais severamente, o recebimento de insumos pelos produtores" de trigo, "resultando num maior atraso no plantio do cereal de inverno nos Estados da região Sul", onde está quase 90 por cento da produção brasileira.
No Paraná, maior produtor nacional, por exemplo, a falta de combustíveis retardou o andamento da semeadura, já impactada pela seca recente.
"Caso haja muita demora na normalização do abastecimento, existe grande chance de não se confirmar a área prevista, pois os produtores preferem não comprometer a janela de plantio da soja 2018/19" a partir de setembro, explicou a Conab.
A companhia prevê que o Paraná amplie a área plantada com trigo neste ano para 1,04 milhão de hectares, alta de 8,8 por cento, e produza 2,79 milhões de toneladas, salto de 26 por cento.
No Rio Grande do Sul, segundo maior produtor, o cultivo do trigo havia atingido apenas 5 por cento até o fim de maio, enquanto o normal para o período seria 12 por cento. "O atraso na entrega de insumos ocasionado pela paralisação dos caminhoneiros impossibilitou o avanço nos trabalhos", disse a Conab, que prevê colheita de 1,31 milhão de toneladas no Estado.
ALERTA E PERDAS
No caso da soja, embora a colheita esteja praticamente concluída nas principais áreas produtoras, a Conab ainda alerta para a possibilidade de impactos decorrentes dos protestos de caminhoneiros.
Em Roraima, que cultiva a oleaginosa mais tardiamente, ainda há áreas suscetíveis a perdas devido à falta de insumos.
"A paralisação de caminhões no final de maio bloqueou cargas contendo cloreto de potássio e supersimples, que serão aplicados a lanço em etapas iniciais de instalação da cultura, podendo comprometer cerca de 20 por cento da área de soja, caso não sejam normalizadas as entregas de cargas no Estado", disse a Conab.
Roraima é considerada uma nova fronteira agrícola e deve expandir a área plantada com soja em 33 por cento neste ano, para 40 mil hectares, com produção prevista de 123 mil toneladas. A conclusão da semeadura estava prevista para maio, mas chuvas atrapalharam, e os trabalhos devem se encerrar ainda neste mês.
O volume de produção em Roraima é ínfimo se comparado ao de quase 32 milhões de toneladas de Mato Grosso, o líder nacional, mas segundo a Conab todo o setor de soja foi impactado pelos protestos.
As exportações do produto em grão, por exemplo, atingiram um recorde de 12,35 milhões de toneladas em maio, mas, não fossem os protestos, a quantidade esperada "seria de 13,67 milhões de toneladas", destacou a Conab.
O Brasil é o maior exportador global de soja e deve embarcar 72 milhões de toneladas neste ano, segundo a Conab, estável ante a estimativa passada e acima dos cerca de 68 milhões do ano anterior.