Por Barani Krishnan
Investing.com -- Seria o petróleo o bicho-papão dos touros do mercado? Ou será que a variante delta do coronavírus vai prejudicar a demanda real por energia - e não apenas a demanda implícita?
Como se pode imaginar, ainda é muito cedo para dizer, embora a crença popular seja que ela não mesmo terá impacto devastador sobre os mercados de energia como a Covid-19 original.
Isso provavelmente é verdade, graças ao conhecimento e à experiência que cultivamos nos últimos 18 meses lidando com o vírus entre nós.
Também temos vacinas e metade ou mais da população inoculada em alguns países, incluindo os Estados Unidos - embora não se saiba a eficácia das vacinas existentes contra as variantes e mutações da Covid descobertas a cada dia.
O que é certo é que a pandemia está longe de acabar, por mais que os touros do petróleo queiram.
E as estatísticas provarão isso. Em média, cerca de 124.200 casos de coronavírus foram relatados a cada dia somente nos Estados Unidos até a quinta-feira, um aumento de 86% em relação a duas semanas atrás. A média de internações diárias subiu para mais de 68.800, um aumento de 82% nas últimas duas semanas. O número de novas mortes relatadas aumentou em 75%, para uma média de 552 mortes por dia.
"A Delta é o novo normal da Covid", John Kilduff, sócio fundador do fundo de hedge energético Again Capital, de Nova Iorque, afirmou esta semana. "Isso prejudicará as atividades diárias e, como resultado, parte da demanda de petróleo que as acompanham, por mais que o mercado queira negar".
Os impactos da variante sobre o petróleo - até aqui, implícitos - se comprovaram mais uma vez essa semana, com praticamente nenhuma melhora após a queda de preços da semana anterior.
A insistente presença da narrativa da Covid, através da variante delta, além de uma leitura desanimadora do consumo nos EUA em agosto, travaram uma retomada do preços do petróleo na sexta-feira.
O petróleo WTI, negociado em Nova York, conquistou um pequeno avanço na semana, enquanto a Brent não foi capaz nem disso.
O petróleo "está um pouco numa posição de terra de ninguém e pode demorar alguns dias para ganhar fôlego para uma nova rodada", disse Phil Flynn, analista do Price Futures Group de Chicago e um autoconfesso touro do petróleo. "Se as preocupações com a Covid se reduzirem um pouco, então os relatórios de queda dos estoques globais de petróleo podem iniciar um outro rali".
Os comentários de Flynn vieram depois que o xerife dos consumidores de petróleo ocidentais avisaram na quinta-feira que a variante delta da Covid irá desacelerar o crescimento da demanda de energia no segundo semestre do ano.
A opinião da IEA, ou Agência Internacional de Energia, foi anunciada no mesmo dia em que a OPEP, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, divulgou sua previsão de demanda de petróleo para 2021 e 2022. A OPEP manteve sua previsão inalterada apesar do risco da variante delta.
A IEA, por sua vez, colocou a queda da demanda de petróleo do mês passado em 120.000 bpd, ou barris por dia. Ela também previu que o crescimento será meio milhão de bpd mais baixo no segundo semestre do que inicialmente previsto em julho.
Somando-se ao pessimismo da IEA, a Universidade de Michigan disse na sexta-feira que seu índice de sentimento do consumidor dos Estados Unidos despencou para o menor patamar em uma década em agosto, com temores quanto a mais uma desaceleração econômica em função da variante delta.
Resumo dos preços do petróleo
O petróleo WTI, negociado em Nova York, fechou em baixa de US$ 0,65, ou 0,9%, a US$ 68,44 por barril. Na semana, ele apresentou aumento de 0,2% - pouco mais que recuperando o recuo de 7,7% da semana passada, o maior desde outubro de 2020.
O Brent, cotado em Londres e referência mundial de preço, fechou em queda de US$ 0,72, ou 1%, a US$ 70,59. Na semana, o Brent caiu 0,2%, após a queda de 7,4% da semana anterior.
Calendário dos mercados de energia
Segunda-feira, 16 de agosto
Dados do estoque de Cushing da avaliadora Genscape
Terça-feira, 17 de agosto
Relatório semanal de estoques de petróleo do American Petroleum Institute.
Quarta-feira, 18 de agosto
Relatório semanal da EIA sobre estoques de petróleo bruto
Relatório semanal da EIA sobre estoques de gasolina
Relatório semanal da EIA sobre estoques de destilados
Quinta-feira, 19 de agosto
Relatório semanal da EIA sobre armazenamento de gás natural
Sexta-feira, 20 de agosto
Pesquisa semanal da Baker Hughes sobre plataformas de petróleo dos EUA
Resumo do mercado e dos preços do ouro
O ouro encerrou com um ganho semanal de 1%, após derreter para níveis abaixo de US$ 1.700.
Mas a recuperação ficou longe da lendária fênix que renasce das próprias cinzas. À medida que a poeira abaixava no pregão de sexta-feira, os longs do mercado ainda estavam distantes de recapturar o patamar crítico de US$ 1.800, um pré-requisito para que o metal dourado recuperasse algum brilho de alta.
Os contrato futuros do ouro para um mês negociados na Comex de Nova York fecharam o dia em alta de US$ 26,40, ou 1,5%, a US$ 1.778,20 por onça.
Foi uma espécie de recuperação para o contrato futuro de referência do ouro ,que havia fechado na segunda-feira em seu preço mais baixo desde 31 de março, a US$ 1.726,50 dólares. Além disso, antes do início do pregão dessa semana nos EUA, o contrato para um mês despencou para US$ 1.672,80 no comércio asiático, no que foi amplamente caraterizado como um "flash-crash".
Os analistas reconheceram a retomada, mas observaram que, desde então, o ouro ficou preso em uma faixa de US$ 1.740 a US$ 1.760, e afirmaram que ele precisaria fazer mais para recuperar uma trajetória de alta.
"Se conseguir passar acima disso, seria uma mudança impressionante, mas não estou convencido (que) seria sustentável", disse Craig Erlam, analista da OANDA, de Nova York.
Erlam também disse que pode haver um novo problema para os longs do ouro com a aproximação da reunião do Federal Reserve em Jackson Hole. "Eu ficaria surpreso em ver ganhos significativos às vésperas do evento".
A reunião em Jackson Hole, no Wyoming, é uma reunião anual em que o Fed examina as principais estratégias para a política monetária dos EUA. Há uma especulação elevada de que o evento deste ano, programado para 26 a 28 de agosto, irá discutir a redução do estímulo mensal de US$ 120 bilhões que o banco central vem proporcionando à economia desde o início da pandemia de Covid em março de 2020.
A especulação sobre a redução do estímulo tem aumentado desde o relatório positivo de empregos nos EUA para julho da semana passada, que iniciou um rali no dólar e nos rendimentos dos títulos dos EUA, esmagando o ouro.
Desde janeiro, o ouro está numa rota difícil que na verdade começou em agosto do ano passado - quando saiu de máximas históricas acima dos US$ 2.000 e se lateralizou por alguns meses, antes de tropeçar para uma queda sistêmica a partir de novembro, quando os primeiros avanços na eficácia da vacina contra a Covid foram anunciados.
Depois de chegar inicialmente a menos de US$ 1.675, o ouro parecia quebrar seu maldição com um salto para US$ 1.905 em maio. A partir daí, ele assistiu uma nova rodada de vendas que o arrastou para frente e para trás, oscilando entre US$ 1.700 e US$ 1.800 por um tempo antes da movimentação para os US$ 1.600 na semana passada.
Isenção de responsabilidade: Barani Krishnan não possui posição nas commodities e valores mobiliários sobre as quais escreve.