Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou nesta quinta-feira que vai promover uma acareação entre o policial militar Luiz Paulo Dominguetti e o empresário Cristiano Alberto Carvalho para esclarecer um áudio divulgado pelo primeiro em depoimento ao colegiado na tentativa de implicar o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) na compra de vacinas.
Aziz ameaçou que os envolvidos no episódio no futuro poderão ser presos em flagrante pela CPI, uma vez que as comissões de inquérito têm poderes para decretar prisões em caso de falso testemunho e cabe ao presidente do colegiado decretar esse tipo de medida.
O presidente da CPI disse que, por ora, não iria determinar a prisão de Dominguetti, conforme havia sido requerido pelo senador Alessandro Vieira (Rede-SE).
Durante o depoimento, Dominguetti --que afirma ser representante da Davati Medical Supply-- disse que Luís Miranda teria tentado intermediar a venda de imunizantes ao Ministério da Saúde pela Davati.
Para supostamente comprovar suas declarações, Dominguetti apresentou durante sessão da CPI um áudio do que seria uma conversa do deputado com Cristiano Alberto Carvalho, apontado por ele como presidente-executivo da Davati. Miranda teria dito, segundo a conversa, que poderia ajudar na intermediação.
Dominguetti afirmou que recebeu o áudio de Carvalho no dia 24 de junho, embora não tenha dito quando ocorreu a conversa.
O deputado Luís Miranda rebateu a suspeita e disse que o áudio da conversa com Cristiano era do ano passado e não tinha qualquer relação com a compra de vacinas.
"Ele (Dominguetti) está plantado aí dentro, ele é um Cavalo de Tróia, ele vai mentir do início até o fim e vai fazer com que nós desviemos o foco do verdadeiro esquema que existe ali dentro", disse o deputado, em entrevista coletiva.
"A intenção é clara desde o princípio, é descredibilizar as testemunhas, as únicas testemunhas que de fato trouxeram evidências que existe, sim, corrupção dentro do Ministério da Saúde", reforçou.
Senadores críticos ao governo também questionaram o interesse de Dominguetti em divulgar esse áudio, levantando a hipótese de que o depoente tinha por objetivo desqualificar Miranda. A CPI também deverá reconvocar o deputado.
Pressionado e sob ameaça de ser preso, o depoente preferiu voltar atrás das suspeitas levantadas e não quis cravar que se tratavam de vacinas no diálogo do parlamentar.
"Eu recebi o áudio e acreditei no áudio de boa fé. Da mesma forma que me foi postado e induzido que me fez acreditar que, dando entender a mim, que eram vinculados ao mesmo fato", contemporizou.
Na semana passada, em depoimento à CPI, Miranda e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, disseram que avisaram o presidente Jair Bolsonaro sobre alegadas irregularidades no contrato de compra pelo governo da vacina indiana contra Covid-19 Covaxin, o que colocou o presidente do centro das investigações da comissão.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)