O CEO e fundador da exchange de criptomoedas mais usada para negociar Bitcoin no Brasil, a Binance, esteve no país na última semana para participar do evento Ethereum.Rio.
Changpeng Zhao, mais conhecido como CZ, aproveitou a ocasião para se encontrar com lideranças nacionais, incluindo o diretor de regulação do Banco Central, Otávio Damaso; o prefeito do Rio, Eduardo Paes; e o governador de São Paulo, João Dória.
Em sua passagem pelo Brasil, o CEO da Binance deixou uma mensagem clara: a empresa pretende agir conforme a legislação brasileira.
A declaração é importante porque a exchange é bastante criticada por concorrentes locais por não ter registro de instituição financeira no país.
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Binance vai seguir legislação brasileira
Como mencionado, a Binance domina as negociações de BTC no Brasil. Em fevereiro, por exemplo, a plataforma respondeu por 38,16% das transações da criptomoeda, de acordo com o Cointrader Monitor.
A nível global, a Binance concentra quase 70% das transações com criptomoedas. Além disso, teve um faturamento de US$ 14,6 bilhões em tarifas em 2021.
Embora se defina como global, a empresa foi obrigada por reguladores a abrir escritórios em alguns países para ser liberada a operar.
No Brasil, a exchange pretende fazer o mesmo, e a cidade mais provável para receber o escritório da Binance é São Paulo.
“O Brasil é muito importante para nós e estamos em um momento de virada, de um mercado não regulado para um regulado. É importante ter encontros presenciais para gerar confiança”, afirmou CZ em entrevista exclusiva ao O GLOBO.
O fundador da Binance destacou também que a Binance assinou um memorando de entendimento para adquirir a corretora Sim;Paul. Conforme destacou CZ, essa aquisição é uma forma de a empresa “herdar” a licença de operação da instituição financeira:
“Queremos agir em plena conformidade com a regulação, para fazer o mercado crescer de forma saudável”, enfatizou.
Regulação de criptomoedas no Brasil
A regulação do mercado cripto vem avançando no Brasil e isso é visto com bons olhos por CZ. Isso porque a sociedade, segundo ele, não é suficientemente evoluída para viver em um ambiente sem regras.
Mas CZ observou que não são só as exchanges que precisam de regulação, o mercado DeFi e vários outros também necessitam de diretrizes.
“Há muito mais a se regular: como nós decidimos quais moedas admitir, como lidamos com a questão da segurança das carteiras, quais são as nossas políticas internas para os funcionários? Queremos mostrar para reguladores do mundo todo as nossas melhores práticas, para assim ensinar, em certa medida, como regulamentar este mercado.”
Falando ainda sobre a expansão para o Brasil, o executivo afirmou que a ideia inicial não é aumentar a receita. Em vez disso, a empresa quer ampliar sua base de usuários:
“Não é o momento de maximizar receita por usuário. Cerca de 3% da população geral utiliza criptomoedas. No Brasil, é parecido. Precisamos chegar a 90%. Este é o objetivo. Na verdade, nós queremos reduzir nossas taxas. Já temos um modelo de negócios sustentável, somos lucrativos”, concluiu.
Lavagem de dinheiro com cripto
No que diz respeito à lavagem de dinheiro com cripto, Zhao minimizou o uso. Além disso, ressaltou que há mais lavagem de dinheiro na economia tradicional do que em cripto:
“O último relatório da Chainalysis diz que em 2021, de todas as transações com cripto, apenas 0,05% foram associadas a endereços ilícitos. Segundo dados da ONU, cerca de 2% a 5% do PIB mundial está associado a atividades ilícitas. Ou seja, há muito mais atividades ilegais acontecendo na economia real regulamentada, do que em cripto.”
Como CZ observou, a tecnologia blockchain é muito rastreável e muito transparente. Por isso, é difícil lavar dinheiro com ativos digitais.
Bitcoin como reserva de valor
Por fim, CZ foi questionado sobre o papel do Bitcoin como reserva de valor, particularmente no contexto atual da guerra russo-ucraniana.
Em resposta, o programador observou que acredita que as criptomoedas sejam um porto seguro sobretudo durante momentos de instabilidade geopolítica, guerra e inflação:
“Acho que esta guerra da Ucrânia já está ensinando ao mundo que aquilo que tradicionalmente chamamos de dinheiro, o dinheiro fiduciário, pode entrar em colapso. O rublo russo já perdeu 90% do seu valor e não é uma reserva segura. Moedas ditas estáveis não são estáveis. Portanto, um dinheiro verdadeiramente forte é um que tenha oferta limitada, como o Bitcoin e os demais.”