Os economistas Peter Bofinger e Thomas Hass estão alertando que as Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDC, na sigla em inglês) podem terminar sendo um fracasso gigantesco.
Em um estudo publicado na segunda-feira (1º), os pesquisadores da Universidade de Wuerzburg, na Alemanha, disseram que as discussões sobre CBDC ganharam um impulso impressionante nos últimos anos.
No entanto, observam que os bancos estão muito focados na política monetária e na estabilidade financeira. Enquanto isso, os fundamentos dessas moedas digitais estão sendo deixados de lado.
Problemas de CBDC
Conforme explicaram os pesquisadores, muitos bancos centrais já publicaram trabalhos sobre CBDC. Seus principais tópicos são: efeitos nos bancos comerciais, o risco da desintermediação e a política monetária e estabilidade financeira.
Em contraste, os aspectos microeconômicos das CBDC têm recebido pouca atenção.
Os analistas explicaram que a CBDC pode funcionar como um depósito no banco central usado nos sistemas de pagamentos. Ou então, pode ser um sistema de pagamento independente operando em paralelo ao sistema existente.
Eles explicaram que, para a credibilidade dos bancos centrais, é importante que qualquer solução seja atraente o suficiente para que os usuários a adotem.
Analisando os projetos mais pesquisados, eles concluíram que será difícil para os bancos centrais lançar CBDC sem interferir no mercado.
Além disso, questionaram se há motivos para um indivíduo mudar de um banco privado para um nacional quando já tem seguro sobre seus depósitos.
CBDC como reserva de valor
Segundo os analistas, uma opção viável que está recebendo pouca atenção é uma CBDC focada em reserva de valor .
“Tal CBDC só poderia ser usada para pagamentos de e para a conta do banco comercial de seu titular. Do ponto de vista alocativo, o fornecimento de tal CBDC poderia ser justificado pela necessidade de ativos seguros que só podem ser fornecidos pelos bancos centrais”, comentaram.
Os pesquisadores ainda afirmaram que a demanda por uma CBDC de reserva de valor viria de empresas e grandes investidores com depósitos bancários de mais de 100 mil euros, que seriam resgatados no caso de uma reestruturação bancária.
Já do ponto de vista do usuário, essa demanda dependeria da taxa de juros para esses depósitos.
Eles explicaram que os bancos centrais poderiam leiloar depósitos de reserva de valor. Dessa forma, teriam mais controle sobre seu montante.
Entretanto, ponderaram que embora possa haver uma grande demanda, os bancos centrais não parecem estar interessados nesta opção.
Afinal, temem que isso possa levar a uma forte desintermediação do sistema bancário:
“Mas mesmo que os bancos centrais percebam que sua tarefa não é desenvolver um substituto digital para o dinheiro, mas uma alternativa digital para sistemas de pagamento globais, não será fácil alcançar o alto nível de sofisticação e o amplo espectro de serviços, especialmente para e-comércio, de tais sistemas de pagamento”, pontuaram.
Conclusões sobre as CBDC
Por fim, eles concluíram que não há justificativa óbvia para substitutos do dinheiro digital do ponto de vista da eficiência alocativa.
Além disso, para os usuários, as soluções não parecem atraentes o suficiente para competir com sistemas de pagamento como PayPal.
Paralelamente, disseram que a principal vantagem da CBDC — segurança absoluta — é irrelevante para pagamentos de varejo.
No entanto, eles observam que há um enorme potencial para as CBDC como uma reserva de valor. Mas os bancos centrais não estão discutindo essa opção.
“Assim, se os bancos centrais mantiverem sua abordagem atual, é alto o risco de que os CBDCs se tornem um fracasso gigantesco. Isso seria tudo menos benéfico para a reputação dos bancos centrais”, concluíram.