Por Miguel Lo Bianco
BUENOS AIRES (Reuters) - Os argentinos, que enfrentam uma das taxas de inflação mais altas do mundo em 104% --e subindo-- estão tendo que economizar cada vez mais à medida que os salários ficam defasados, alimentando raiva e frustração no país.
A nação sul-americana, importante exportadora de grãos e a segunda maior economia da região, tem previsão de que os preços subam 7,5% apenas em abril, mostra uma pesquisa da Reuters com analistas, com a taxa de inflação para o ano provavelmente chegando perto de 130%.
Isso levou uma em cada quatro pessoas à pobreza em um país que no início dos anos 1900 estava entre os mais ricos do mundo, embora tenha lutado por décadas contra inflação alta, juntamente com dívidas cíclicas e crises monetárias. As reservas cada vez menores do banco central estão colocando em risco as finanças do governo.
"Eles nos transformaram em um país de mendigos", disse à Reuters Carlos Andrada, um trabalhador autônomo de 60 anos, enquanto procurava descontos em uma barraca de vegetais em um mercado nos subúrbios de Buenos Aires.
“A gente se desespera porque depois de trabalhar a vida toda, tem que lutar só para conseguir um tomate ou um pimentão”, afirmou.
A frágil situação econômica da Argentina foi agravada por uma seca histórica desde o ano passado, que prejudicou as exportações de soja, milho e trigo, esgotando as reservas internacionais e dificultando a capacidade do governo de combater a fraqueza da moeda.
A volatilidade no mercado de câmbio, que viu o peso atingir mínimas recordes perto de 500 por dólar em mercados paralelos no mês passado, inflamou ainda mais os preços e prejudicou o enorme acordo de empréstimo de 44 bilhões de dólares da Argentina com o Fundo Monetário Internacional.
"Na última vez em que estive (no mercado), paguei 300 pesos o quilo de pimentão --são 300 pesos meio quilo agora", disse Olivia María Belbruno, aposentada de 70 anos.
"Estes são os governos que temos e nós, os cidadãos, precisamos pensar porque somos nós que lhes damos o nosso voto."
A coalizão governista peronista está buscando reduzir os preços antes das eleições primárias de agosto e da votação geral em outubro, nas quais os altos preços e a pobreza estão prejudicando gravemente suas chances de permanecer no cargo.
“Parei de sair para comer uma vez por mês, não saímos de férias para lugar nenhum há quatro anos, tivemos que vender o carro porque não podíamos pagar seguro, licenças e custos de garagem”, disse o trabalhador gráfico Salvador Paterno, de 64 anos.
"Usamos pouco ar condicionado, aquecimento. Todo mundo reduz esses hábitos para sobreviver."