SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central cortou nesta quarta-feira a taxa básica de juros à mínima histórica de 3% ao ano --redução de 0,75 ponto percentual, mais forte do que a prevista pelo consenso de mercado-- e sinalizou uma última diminuição à frente, não maior do que a atual, para complementar o estímulo monetário necessário em meio aos impactos da pandemia de coronavírus na economia.
Veja comentários de profissionais do mercado financeiro sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom):
JOÃO MAURÍCIO ROSAL, ECONOMISTA-CHEFE, GUIDE INVESTIMENTOS
"Essa decisão vai trazer pressão sobre o dólar, especialmente numa situação em que a taxa Selic tem pouco impacto agora sobre condições de crédito, que está emperrado. E vai adicionar componente de risco na curva de juros. Acelerar o corte não vai ter impacto maior no sentido de mitigar os efeitos negativos da crise sobre a economia real. De qualquer forma, acho difícil tomar a valor de face essa sinalização do BC de que teremos apenas mais um corte. A situação da atividade está crítica, e o cenário para a inflação está mais benigno que o esperado. O BC terá de rever essa sinalização de fim de ciclo. Como um todo, acho contraditório o discurso do BC agora vis-à-vis o discurso anterior sobre importarem mais as condições financeiras. Mantemos estimativa de Selic a 1,75% ao fim do ano, mas alteramos a sequência de cortes para 50/50/25 (pontos-base) em vez de 50/50/50."
THOMAZ SARQUIS, ECONOMISTA, ELEVEN FINANCIAL RESEARCH
"O BC disse 'Primeiro sinaliza o fiscal, depois a gente vê se tem espaço para, de fato, continuar cortando'. Esse foi, para mim, o maior destaque desse comunicado. Se temos um fiscal muito deteriorado, a tendência é que nossa dívida suba. Se o juro que remunera essa dívida é muito baixo, o apetite dos investidores para comprar título de dívida de um país com fiscal extremamente deteriorado fica muito baixo. E aí o risco é que haja fuga de capital, o risco é que haja depreciação cambial, e Banco Central não quer isso. De certa forma, ele colocou um teto para mais corte, de 75 pontos-base, podendo levar a Selic a 2,25% a.a., o que é muito além do que estava precificado."
MAURICIO ORENG, SUPERINTENDENTE DE PESQUISAS MACROECONÔMICAS, SANTANDER BRASIL
"A decisão do BC hoje mostrou que a instituição se guiou mais por fatores de curto prazo --sobretudo choque de demanda-- do que por elementos estruturais, como a questão fiscal. De forma geral, achamos que a escolha (por um corte de 75 pontos-base) foi correta. Com as ponderações feitas, o Copom ganha tempo para observar e avaliar a próxima decisão nesse ambiente de incerteza muito grande."
ÉTORE SANCHEZ, ECONOMISTA-CHEFE, ATIVA INVESTIMENTOS
"Os indicadores de alta frequência mostraram uma evolução desastrosa da atividade, e por isso esperávamos esse corte de 75 pontos-base. Acho que virá novo corte de 50 pontos-base em junho, tendo como cenário-base que um alívio nas restrições de mobilidade social e de atividade de empresas possa começar a ser percebido nos indicadores econômicos de junho. No mercado, os juros futuros deverão começar a precificar corte entre 50 pontos-base e 75 pontos-base para a próxima reunião, e a Selic projetada pelo DI janeiro 2021 deverá ficar em torno de 2,50% ou um pouco menos. O dólar pode ter uma pressão na abertura, mas vejo os mercados digerindo a decisão ao longo do dia e a moeda fechando longe das máximas."
DAN KAWA, SÓCIO, TAG INVESTIMENTOS
"BCB cortou Selic para 3% e sinalizou novo corte. [...] Acho um erro de política monetária. Não acho que o Brasil tem fundamento de longo prazo para ter essa Selic. Bancos não vão emprestar mais e nem a uma taxa menor."
MARCOS MOLLICA, GESTOR, OPPORTUNITY
"BC finalmente acordando para o cenário. Cortou 75 pontos-base e manteve a porta aberta para um corte adicional, provavelmente da mesma magnitude."
PABLO SPYER, DIRETOR DE OPERAÇÕES, MIRAE ASSET
"Devemos ter mais um corte na reunião que vem. O Banco Central deixou claro que considera um último ajuste na reunião que vem, e o corte de hoje foi maior que aquele que a maioria esperava. Acho que há uma aposta implícita do BC de que vai ser possível andar com as reformas. Eu não acredito que se o BC achasse que está muito difícil avançar com as reformas faria um movimento tão agressivo quanto esse. De toda forma, mudei agora a projeção de corte para 25 pontos-base na próxima reunião, de 50 pontos-base antes."
(Por José de Castro e Gabriel Ponte)