Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Os efeitos do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na curva de juros brasileira na quinta-feira não são um consenso entre profissionais consultados pela Reuters, já que o colegiado manteve a taxa básica Selic em 10,50% ao ano, mas reforçou alertas sobre a conjuntura atual.
No comunicado, o Copom projetou uma inflação em 12 meses de 3,2% no primeiro trimestre de 2026 no cenário alternativo, que considera a Selic estável em 10,50%. O percentual está próximo do centro da meta de 3% perseguido pelo BC, o que para alguns profissionais sugere que a instituição não será obrigada a subir a Selic no curto prazo para fazê-la convergir à meta.
Ao mesmo tempo, o Copom alertou que “as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária”. Especificamente, o BC citou os impactos inflacionários decorrentes de “variáveis de mercado” e das “expectativas de inflação”, que caso se mostrem mais persistentes “corroboram a necessidade de maior vigilância”.
“A referência (das variáveis de mercado) é ao câmbio e (das expectativas de inflação) e ao Focus”, resumiu o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano. “Maior vigilância seria provavelmente uma possível elevação da Selic. Então, o BC é mais duro em relação à comunicação anterior, mas o balanço de riscos se manteve simétrico na minha opinião”, acrescentou.
Para Serrano, como o comunicado do BC sugere que uma alta de juros não está na iminência de acontecer -- como vem sendo precificado pelo mercado -- a curva a termo deve passar por uma inclinação nesta quinta-feira.
“Deveria ter um ajuste, com os (juros futuros) curtos caindo um pouco, e os longos subindo um pouco. Isso ocorre porque, teoricamente, o BC reduziu a probabilidade de aumento iminente da Selic”, reforçou.
No entanto, para Mayara Rodrigues, analista de Renda Fixa da XP (BVMF:XPBR31), os alertas quanto à possível necessidade de “maior vigilância” acabaram abrindo a porta para que, se não houver melhora, o Copom possa aumentar a Selic “em um horizonte até curto, ainda este ano”.
Segundo ela, isso tende a provocar um movimento de flattening (achatamento) da curva de juros nesta quinta-feira.
“Basicamente, a gente espera que a probabilidade de a Selic aumentar se intensifique, ao mesmo tempo em que o risco de algo dar errado diminuiu, o que é precificado ali na ponta mais longa da curva”, comentou Rodrigues, citando uma possível aproximação das taxas de curto e de longo prazo.
“A gente espera movimentos não bruscos, mas uma pequena movimentação para cima, na parte curta... Na ponta longa pode ser que (as taxas) caiam um pouquinho por conta do maior controle, da maior preocupação do comitê com o cenário atual.”
A avaliação de Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos e chefe de Economia e Finanças da ESPM, é de que o comunicado adotou um tom duro, “prescrevendo cautela, porém não em grau exagerado”.
Para ele, a Selic tende a permanecer em 10,50% ao ano nas próximas duas ou três reuniões do Copom e os efeitos do comunicado na curva de juros na quinta-feira devem ser reduzidos.
“A linguagem do Copom foi muito tranquila, sem nada nas entrelinhas, nem dovish, nem hawkish. Não acho que tenha ajuste grande na curva não”, opinou.