Rafael Cañas.
Madri, 23 abr (EFE).- Os candidatos a governar a Espanha após as eleições do próximo domingo travaram na noite desta terça-feira um debate televisionado duro e intenso, com acusações constantes, em uma tentativa de atrair o grande número de eleitores indecisos.
Entre reprovações, interrupções e reiteradas acusações, o socialista Pedro Sánchez, atual presidente do governo; Pablo Casado, principal líder da oposição (PP, centro-direita); Albert Rivera (Ciudadanos, liberal), e Pablo Iglesias (Podemos, esquerda) discutiram asperamente sobre impostos, emprego, a questão do separatismo na Catalunha, corrupção, aborto e serviços públicos.
O debate, exibido pela emissora "Antena 3", foi mais intenso e tenso que o realizado ontem na estatal "RTVE", com um formato mais dinâmico, mas que também favoreceu os enfrentamentos.
Sánchez insistiu na sua estratégia de lembrar as medidas que seu governo tomou nos dez meses que está no poder, especialmente as de caráter social, e as que seu partido - o PSOE - promete implantar se continuar no comando do país, "olhando para o futuro" e promovendo a justiça social.
Tentando mostrar um tom mais presidencial que seus rivais, Sánchez reprovou repetidamente Casado e Rivera pelo pacto dos seus partidos com o ultradireitista Vox para conseguir o governo da região da Andaluzia.
Com o PSOE à frente nas pesquisas, o chefe do Executivo optou por não arriscar e pediu "que se concentre todos os votos possíveis no único partido que pode derrotar as duas direitas e a extrema-direita".
O conservador Casado, cujo Partido Popular é atualmente o mais numeroso no parlamento, apostou em atacar Sánchez pelas suas políticas econômicas, que, segundo afirmou, levarão o país à ruína. Por outro lado, prometeu baixar os impostos, algo que prometeu que criará 400.000 postos de trabalho.
"Somos a única alternativa a Sánchez", garantiu.
Diante da tendência de que o Ciudadanos e o Vox estão arrebatando boa parte de seus eleitores tradicionais, Casado apelou aos cidadãos para "unir esse voto" no PP, especialmente contra os independentistas.
Rivera, assim como na segunda-feira, adotou um papel mais dinâmico e agressivo, tanto contra Sánchez como contra Casado, e de novo se apoiou de forma abundante em documentos e gráficos. Dessa forma, assegurou que a Espanha enfrenta "uma situação de emergência nacional" pela questão da Catalunha.
Campeão de debates quando era estudante universitário, o dirigente liberal olhou em várias ocasiões para a câmera, falando diretamente aos espectadores, e tentou posicionar-se como uma alternativa a Sánchez mais moderna que o PP de Casado, como por exemplo no seu apoio a uma lei da eutanásia, algo criticado pelos conservadores.
Sua intensidade foi tal que Pablo Iglesias lhe reprovou em uma ocasião: "Essa tática do senhor de interromper a todo o momento é própria de mal-educados".
Iglesias, por sua vez, adotou de novo o papel de manter-se à margem da forma como desenvolvia-se a discussão, lamentando o tom do debate e pedindo a seus três rivais melhores maneiras, "sem insultar", por respeito aos espectadores e eleitores.
Além disso, não deixou de debulhar com tom metódico suas propostas sociais a favor de aumentar os impostos sobre os mais favorecidos para melhorar o financiamento da previdência, a educação, a saúde e a moradia. E também foi o único que abordou temas esquecidos, como as zonas rurais, e a lembrar que, após as eleições, será preciso pactuar de forma construtiva um governo de coalizão.
Durante o debate, tanto o Partido Popular como o Ciudadanos reiteraram suas acusações contra Sánchez por pactuar com os independentistas catalães, algo que o líder socialista rejeitou novamente: "Não é não. Falso é falso", frisou.
Em uma discussão que se prolongou durante duas horas, os quatro candidatos se esforçaram em mostrar suas diferenças, mas não falaram muito sobre possíveis pactos, - algo que será necessário, uma vez que todas as pesquisas, embora indiquem a vitória socialista, também ressaltam que serão necessários dois ou mais partidos para forjar uma maioria de governo.
A lei eleitoral espanhola impede a publicação de pesquisas a partir desta terça-feira e até o pleito de domingo, razão pela qual não será possível medir o impacto dos dois debates televisados nos aproximadamente seis milhões de indecisos que calcula-se que ainda haja nestas eleições, possivelmente as mais disputadas das últimas décadas.