Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O consumo de eletricidade, importante indicador da atividade econômica, pode ter queda de 5% a 12% no Brasil em 2020, em meio a impactos da pandemia de coronavírus sobre a demanda, apontou a consultoria especializada RegE, de um ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A projeção, se confirmada, representaria um cenário bem pior que as últimas estimativas da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e de outros órgãos técnicos do setor, que no início de maio revisaram suas perspectivas e sinalizaram retração de 2,9% no uso de energia neste ano.
Até o final de março, as previsões de EPE, Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) eram de recuo de apenas 0,9% no consumo.
A consultoria RegE, que tem entre os sócios um ex-diretor da Aneel, Tiago de Barros, avaliou em relatório a clientes que a desaceleração da economia impactará fortemente o consumo de energia elétrica, que poderia cair 4,7% em cenário considerado "otimista".
Em visão "moderada", o recuo na demanda poderia ser de 7,9%, enquanto um cenário "pessimista" poderia levar a um tombo de 12,3% no uso de eletricidade, segundo estimativas próprias da ReGe.
Em um cenário "normal", sem a pandemia, o consumo de eletricidade poderia ter crescido 4,5% no país em 2020 --número em linha com as estimativas de EPE, ONS e CCEE no final do ano passado.
As projeções da consultoria levam em consideração uma queda de 3,6% no PIB brasileiro no cenário otimista e de 6,1% no moderado, enquanto a visão pessimista envolveria recuo de 9,5% na economia.
Em sua última revisão de estimativas, EPE, ONS e CCEE levaram em conta expectativa de queda de 5% no PIB em 2020.
A expectativa de analistas de mercado para o desempenho da economia brasileira neste ano é de uma queda de 5,89%, segundo boletim Focus publicado pelo Banco Central nesta segunda-feira, contra queda de 5,12% na semana anterior.
Em meio à forte retração na demanda e também a um aumento da inadimplência com a pandemia, o governo tem negociado um pacote de apoio a distribuidoras de energia que deve envolver mais de 10 bilhões de reais em empréstimos de um grupo de bancos liderado pelo BNDES.
A consultoria ReGe apontou ainda que a redução do consumo tem sido mais expressiva no mercado livre de eletricidade, no qual grandes clientes como indústrias negociam seu suprimento diretamente com geradores e comercializadores, o que será acompanhado por renegociações de contratos e até possível aumento da inadimplência nesse setor.
Comercializadoras de energia esperam um impacto negativo de 5 bilhões de reais neste ano devido a esses pedidos de flexibilização e ao menor consumo por parte de seus clientes como consequência do coronavírus, conforme publicado pela Reuters em 20 de maio.