Por Stefani Inouye
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta sexta-feira que, por questões de comunicação, o mercado financeiro "não está absorvendo" os avanços em reformas micro e macroeconômicas em curso até o momento e disse que o BC pode exigir "muito menos" compulsório dos bancos do que atualmente.
"É curioso porque, às vezes eu vou fazer apresentações para falar do Banco Central, e as pessoas falam 'mas as reformas não estão andando, não está acontecendo nada', eu falo 'gente, como não está acontecendo nada?'", disse Campos Neto em evento na capital paulista.
O presidente do BC listou ações do governo e da autoridade monetária para refenderar sua avaliação de que tem havido progressos, como o open banking --que visa aumentar a eficiência e a competição no Sistema Financeiro Nacional e abrir espaço para a atuação de novas empresas do setor--, o mecanismo de assistência de liquidez, a abertura comercial, o barateamento do preço do gás e o plano de aumento de competição no setor de petróleo, entre outras ações.
"Então, assim, eu tenho muita dificuldade de entender, porque foram tantas coisas feitas em menos de um ano que eu acho super interessante, talvez por um problema de comunicação, que o mercado de uma forma geral não está absorvendo todas as coisas que estão sendo feitas", disse o presidente do BC.
Campos Neto afirmou ainda que o crescimento econômico liderado pelo setor privado é "um pouco mais lento" que o guiado pelo investimento público, mas, em contrapartida, é de melhor qualidade.
Na véspera, o Banco Central estimou que a economia crescerá 0,9% em 2019 e 1,8% em 2020. A previsão para o ano que vem mostra um BC mais conservador que o mercado como um todo, que prevê expansão de 2,00%, conforme mais recente pesquisa Focus.
O chefe da autarquia avaliou que a agenda microeconômica é tão importante quanto a macro. "Essas agendas micro... não aparecem no jornal, mas são agendas que, no conjunto, é o que vai fazer a máquina andar", disse.
COMPULSÓRIO
Para Campos Neto, é possível exigir "muito menos" que os 450 bilhões de reais atuais em depósitos compulsórios dos bancos.
"Queremos mapear todo o crédito privado e precificar todo o crédito privado. Isso significa que os 450 bilhões (de reais) que nós temos hoje no compulsório, a gente pode sobreviver com muito menos. Isso é dinheiro que a gente coloca na economia para acelerar o crédito e atividades financeiras", afirmou.
O presidente do Banco Central voltou a destacar pontos da agenda BC# --conjunto de medidas que visa melhorar inclusão, competitividade, transparência e educação financeira--, reiterou intenção da autarquia de transformar o real em moeda conversível e afirmou que o projeto de lei que trata de hedge cambial para investimentos em infraestrutura está pronto e deve ser encaminhado em breve.
Campos Neto voltou a falar também sobre spread bancário, atribuindo parte do seu nível elevado à assimetria de informações no mercado. O presidente do BC considerou que houve avanços na agenda que mira reduzir o spread.
"Essa foi uma luta mais dura, teve alguns avanços, mas ainda tem bastante trabalho para fazer", afirmou.