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Margato, da XP: Macro brasileiro deve ser positivo em 2024, mas com uma ressalva

Publicado 27.12.2023, 07:25
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Investing.com – Enquanto o ano de 2023 foi marcado por uma série de incertezas e juros em patamares elevados para controlar a inflação a nível local e mundial, as tendências para 2024 parecem mais promissoras. É assim que a XP (BVMF:XPBR31) avalia o cenário macroeconômico, conforme destacou em entrevista exclusiva ao Investing.com Brasil o economista Rodolfo Margato. Com processo de desinflação e expectativa para continuidade do ciclo de cortes nos juros brasileiros, o macro local tem como ressalva o potencial de crescimento econômico, em sua visão.

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“Acho que tem um desafio maior no curto prazo, olhando atividade econômica, para aqueles bens que são mais sensíveis ao crédito, aos juros altos”, avalia Margato.

A virada de 2023 para 2024 possui maior clareza e otimismo, no seu entendimento. No entanto, a inflação global segue como risco, assim como uma possível escalada de conflitos geopolíticos, pressões para o crescimento econômico brasileiro e eventual frustração de metas fiscais.

Para o próximo ano, a XP espera que a tendência de corte dos juros nos Estados Unidos seja um ponto favorável, com projeção de que o início do ciclo ocorra em maio. Já no mercado local, os olhares seguem atentos para as medidas aprovadas pelo governo para elevação da receita, que podem colaborar para chegar mais próximo da meta de zerar o déficit – cenário que não é o estimado pela XP
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Investing.com – Frente ao esperado no início do ano, os dados econômicos melhoraram ou pioraram, na opinião da XP? Por quais motivos?

Rodolfo Margato – Avalio que houve mais surpresas positivas do que negativas no campo econômico doméstico ao longo deste ano. Tivemos algumas surpresas positivas, por exemplo, em termos de crescimento econômico, mais uma vez, nós e o mercado fomos surpreendidos para cima e o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 3% este ano, contra uma expectativa mais próxima de 1% no início de 2023, muito por conta da força do agronegócio, da safra recorde de grãos, mas também pela resiliência do mercado de trabalho para o desempenho do consumo das famílias mais forte do que o esperado.

Outro dado nessa direção foi a inflação, devemos fechar 2023 como a inflação ao consumidor, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,4%. Nossa projeção já chegou a ficar ao redor de 6% no primeiro e no segundo trimestres deste ano. Então, nós temos observado um processo de desinflação e, por exemplo, deflação de alimentos, ou seja, variação negativa nos preços, além de muitos alimentos a preços bem-comportados, assim como dos bens industrializados. Mesmo aqueles preços mais resistentes que despertam maior preocupação do Banco Central, como os preços de serviços, vêm numa trajetória de queda. É uma inflação que segue acima do centro da meta e nós projetamos cerca de 4% também para 2024, mas com uma redução significativa em relação ao final do ano passado ou mesmo início deste ano.

Então, temos PIB mais alto, inflação mais baixa e um outro destaque bem positivo de 2023 na economia brasileira foi, sem dúvida, a balança comercial. Devemos ter um recorde de superávit comercial este ano, mais de US$95 bilhões de dólares de exportações menos importações. Muito acima, por exemplo, do ano passado, que teve saldo comercial um pouco acima de US$60 bi. Então, a força das exportações brasileiras, especialmente de bens primários, ficou evidente em 2023.

No entanto, tivemos também alguns desafios, sobretudo no lado fiscal aqui no campo doméstico, mas vale a pena mencionar também que a aprovação do arcabouço fiscal, ainda que não seja a regra perfeita, mas diante de incertezas de questões políticas, nós tivemos a aprovação de um marco, de uma regra fiscal importante para trazer previsibilidade para a dinâmica das contas públicas. Ainda estamos rodando com déficit primário, mas temos um conjunto de regras que traz respaldo para outras decisões de política econômica, inclusive do lado Internacional.

Nessa primeira resposta retrospectiva de 2023, seguimos ainda acompanhando o conflito entre Israel e Hamas, além da guerra no Leste Europeu, que permanece com um cenário duro e de incertezas.

Além disso, tivemos no terceiro trimestre, começo do quarto trimestre, uma pressão enorme nas taxas de juros americanas, especialmente as de longo prazo, as chamadas Treasuries dos Estados Unidos, que acabam afetando a maioria dos ativos financeiros globais. Foi um momento de estresse nos mercados financeiros, mas nas últimas semanas a gente também viu alguns sinais de alívio. Nesse sentido, inclusive, alguns sinais de discussão de juros por parte do Fed. Talvez a autoridade monetária dos Estados Unidos comece a cortar juros do ano que vem antes do que se imaginava inicialmente e nós observamos uma descompressão nos juros americanos em outras economias desenvolvidas.

Então, é um cenário global ainda volátil, com incertezas, mas aparentemente um momento de maior estresse foi ali no terceiro trimestre. Houve também alguns avanços nesse sentido, então, em um balanço geral, eu diria que foi um ano com seus desafios, algumas incertezas permanecem para 2024, mas tivemos um número maior de surpresas positivas do que negativas e o Brasil no relativo a outras economias.

Inv.com – Para o ano que vem, a expectativa é de melhora ou piora para os principais dados macroeconômicos? Quais as projeções principais?

Margato – Acho que tem a continuidade de alguns sinais favoráveis para a economia brasileira. Por exemplo, acreditamos em uma continuidade da desinflação. Nossa projeção de IPCA fica ao redor de 4%, talvez um pouco abaixo, mas com processo de revisão. No entanto, não vemos o atingimento da meta, pelo menos não em 2024, com a meta inflacionária de 3%, mas enxergamos um processo de convergência gradual nessa direção. Então, aqui ainda é uma avaliação benigna.

A balança comercial, contas externas de forma geral, acho que continua com os números positivos no ano que vem. O déficit em conta corrente que a gente projeta no fechamento de 2023 ao redor de 1,5% cento do PIB, tem o potencial para se aproximar de 1% do PIB de déficit em conta corrente. Uma média histórica para esse indicador está mais perto de 3% do PIB. Tudo o que tange as exportações, balança comercial, balanço de pagamentos, nós antevemos continuidade de números positivos.

Com a inflação recuando, ainda que de forma gradual, nós também trabalhamos com uma continuidade nos cortes na taxa Selic. Eu acho que esse é o grande tema macroeconômico para 2024, até onde pode chegar a taxa Selic. Sabemos que ciclo de afrouxamento monetário, ou seja, de corte de juros, é favorável para as companhias em termos de avaliação, de lucratividade corporativa, de atividade econômica como um todo, ciclo de maior crescimento talvez tem alguns setores, então sempre há muita expectativa sobre esse ciclo de cortes na Selic. Ela começou a ser reduzida pelo Copom em agosto deste ano, estava em 13,75%, fecha 2023 em 11,75% e provavelmente segue numa trajetória de queda.

Nós trabalhamos com reduções de meio ponto percentual na Selic nos próximos encontros do Copom, ou seja, a manutenção do ritmo atual. Temos visto alguns elementos que talvez abram o espaço para o Copom cortar o juro básico abaixo de 10%, que é o nosso número projetado, sendo atingido ali em junho de 2024. No entanto, nós temos visto um potencial para talvez o Copom cortar um pouco mais, talvez mais perto de 9%, com o processo de desinflação no Brasil, também com o recuo nos preços das commodities internacionais, especialmente commodities metálicas, ou seja, aquele processo de deflação global de custos. A redução de custos deve persistir nos próximos meses e isto também contribui para a queda de vários grupos da inflação. Diria que temos visão otimista em termos macroeconômicos como um todo, mas uma ressalva que a gente faz fica do lado do PIB.

O crescimento de 3% estimado para este ano teve uma contribuição significativa do agro. A safra de soja em grão, que é nossa principal cultura agrícola, representa cerca de 45% de todo o valor bruto da agropecuária. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa safra de soja cresceu 27% em 2023, contra 2002. O PIB da agropecuária pelas contas nacionais do IBGE vai crescer mais de 16% este ano, então uma contribuição bem significativa. Deixa uma base de comparação alta para 2024.

Assim, nossa projeção de variação real do PIB no ano que vem está em 1,5% depois de um crescimento de 3% em 2023. Mas, eu chamo a atenção justamente para essa base de comparação muito alta. Nós temos trabalhado aqui com a premissa e muitas casas também de safras volumosas também em 2024. Mas em termos de variação anual, como a safra de 2023 foi o recorde histórico, a variação anual acaba sendo mais modesta.

Agora, tem alguns setores que estão em uma trajetória de queda, de produção e de vendas. Acreditamos que essa tendência vai permanecer até o final do primeiro semestre, então, por exemplo, fabricação de máquinas e equipamentos que nós chamamos de bens de capital, vários segmentos da indústria de transformação, construção civil, são alguns setores que vem contraindo. Isso deve persistir por mais alguns meses e a partir de meados do ano, nós provavelmente começaremos a vislumbrar um cenário mais positivo à medida que a queda de juros comece a impactar mais na ponta, pois isso se traduz em condições de crédito, de financiamento menos apertadas, mas deve ficar para segundo momento. Então acho que tem um desafio maior no curto prazo, olhando atividade econômica, para aqueles bens que são mais sensíveis ao crédito, aos juros altos.

Então, móveis, eletrodomésticos, materiais de construção, veículos, produtos eletrônicos. Esses bens têm sofrido mais do que aqueles que dependem mais dos impulsos de renda, supermercados, alimentos, bebidas, farmacêuticos. Afinal, com a recuperação de mercado do trabalho que a gente observou, também um aumento de transferências fiscais, essa distinção, segmentação de mais sensíveis ao crédito e mais sensíveis à renda ficou bem clara e deve continuar por mais alguns meses. Mas nós vemos um conjunto amplo de indicadores de atividade melhorando a partir de meados de 2024 com o cenário de queda de juros e os efeitos defasados que que existem sobre a economia.

Sobre a taxa de câmbio, nós temos destacado que a taxa de câmbio tem um potencial de apreciação, ou seja, de alguma redução no câmbio, mesmo quando a variável chegou a bater R$5,20, até R$5,30 por dólar. Nós já víamos um potencial de apreciação pela força das contas externas, commodities, dentre outros fatores. A nossa projeção para o ano que vem está mais perto de R$4,70 por dólar. Então a gente reforça essa visão de uma taxa de câmbio mais bem comportada. É claro que existe volatilidade, choques sempre podem acontecer e gerar desvios de curto prazo, mas nós vemos um câmbio ao redor de R$4,70 como mais compatível com os chamados fundamentos da economia.

Inv.com – Quais são os principais riscos para a economia brasileira em 2024?

Margato – Primeiro, do lado Internacional, acho que ainda existe um risco associado à inflação. É verdade que os últimos dados foram encorajadores, inclusive, levaram os bancos centrais como Federal Reserve nos Estados Unidos, entre outros bancos centrais de economias desenvolvidas, a reconhecerem melhorias, no campo da desinflação, mas ainda vemos alguns riscos. Por exemplo, preços de serviços parecem bem resistentes na economia americana. Afinal, por lá, o mercado de trabalho continua aquecido, a atividade econômica vem desacelerando de uma forma bem lenta para muitos, até mais lentamente do que o esperado. Então, ainda tem uma preocupação sobre o processo inflacionário, especialmente em economias desenvolvidas como os Estados Unidos. A gente trata como um risco, porque no nosso cenário, essa desinflação vai ficar mais clara nos próximos meses. Mas, se isso não acontecer, talvez o Fed não tenha espaço para cortar o juro básico no primeiro semestre, talvez fique para mais para frente. O nosso cenário tem o primeiro movimento de corte de juros nos Estados Unidos em maio. Tem muitos analistas projetando já para março. Se esse primeiro corte fica para o segundo semestre, isso pode gerar um estresse no mercado financeiro, uma reavaliação do cenário econômico.

Outro fator de risco seria uma recessão mais forte em algumas regiões como zona do euro, Reino Unido, alguns outros países. Nos Estados Unidos parece algo mais difícil e na China também. Mas, enfim, há uma atividade econômica mais fraca do que o projetado em algumas regiões. Esse é um outro fator de risco.

Sem falar, claro, nos riscos geopolíticos. Não trabalhamos, por exemplo, com a tese de uma escalada militar no Oriente Médio, mas é um fator a ser monitorado.

Além disso, nos EUA, devemos ter eleições bastante acirradas. As primeiras pesquisas de intenção de voto, inclusive, mostram o ex-presidente Trump à frente do atual presidente Biden. Ainda, um aspecto que tem sido bastante debatido na maior economia do mundo, é expansão da política fiscal, que é um tema que a gente sempre aborda aqui no Brasil, mas é tratado nos Estados Unidos também. As métricas fiscais vêm piorando, com aumento de déficit. Diante de eleições presidenciais apertadas, é difícil imaginar uma reversão dessa política fiscal expansionista. Então, acredito que o debate e o desenrolar das eleições americanas podem adicionar volatilidade aos mercados.

No Brasil, entre os temas, está sobretudo a política fiscal. É verdade que a equipe económica vem conseguindo apresentar e, junto ao Congresso, aprovar algumas medidas de elevação de receitas, como aquela de subvenções, das apostas esportivas, dos fundos exclusivos, fundos offshore, visando a melhoria do resultado primário do governo, isso é positivo. Mas tem um risco de algumas dessas medidas frustrarem em termos das estimativas de arrecadação e de fecharmos com um resultado primário pior.

A gente não trabalha com o atingimento da meta de zerar o déficit primário. Talvez seja um resultado ali entre 0,5% e 1% do Produto Interno Bruto (PIB) de déficit. Nós sabemos que o governo está bastante empenhado na busca por essa zeragem do déficit primário. Então é um fator de risco, se houver uma frustação das medidas de receita ou talvez outras medidas de expansão de despesas. Aí volta aquela discussão mais forte sobre a efetividade do arcabouço fiscal e assim por diante.

Então ainda temos um cenário com incertezas, mas se a gente comparar, por exemplo, com a virada de 2022 para 2023 ou mesmo com o primeiro semestre, ao longo deste ano aparece um cenário mais claro, com perspectivas de retomada para várias frentes. Lembrando que no início deste ano a gente chegou a discutir o risco de uma crise bancária nos Estados Unidos, depois da quebra de alguns bancos regionais, como o Silicon Valley Bank, alguns eventos corporativos de crédito do Brasil, também questões bancárias na Europa, novo governo, então, era um cenário mais conturbado. Acho que nesse sentido agora tem espaço para uma melhoria mais consistente, mais clara de vários indicadores.

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