CABUL (Reuters) - Em uma pequena oficina de costura em Cabul, a empresária afegã Sohaila Noori, de 29 anos, observa sua força de trabalho drasticamente reduzida de cerca de 30 mulheres costurando lenços, vestidos e roupas de bebê.
Alguns meses atrás, antes de o movimento islâmico linha-dura Taliban retomar o poder em agosto, ela empregava mais de 80 pessoas, a maioria mulheres, em três diferentes oficinas têxteis.
"No passado, tínhamos muito trabalho a fazer", disse Noori, que está determinada a manter seu negócio funcionando para empregar o máximo de mulheres possível.
"Tínhamos diferentes tipos de contratos, podíamos pagar facilmente um salário aos nossos mestres alfaiates e outros trabalhadores, mas atualmente não temos contratos."
Com a economia do Afeganistão em profunda crise --bilhões de dólares em ajuda e reservas foram cortados e a população comum têm pouco dinheiro mesmo para o básico-- empresas como a de Noori estão lutando para se manter de pé.
Para piorar a situação, o Taliban só permite que as mulheres trabalhem sujeitas à sua interpretação da lei islâmica, levando algumas a deixar seus empregos por medo de punição, uma vez que o grupo restringiu severamente a liberdade das mulheres quando governou pela primeira vez o país.
As conquistas duramente conquistadas pelos direitos das mulheres nas últimas duas décadas foram rapidamente revertidas, e relatórios de especialistas em direitos internacionais e organizações trabalhistas nesta semana desenharam um quadro sombrio para o emprego feminino e o acesso ao espaço público.
Embora a crise econômica esteja atingindo todo o país --com algumas agências prevendo que isso deixará quase toda a população na pobreza nos próximos meses-- o efeito é sentido desproporcionalmente pelas mulheres.
Os níveis de emprego entre mulheres afegãs caíram cerca de 16% no terceiro trimestre de 2021, de acordo com um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado na quarta-feira, em relação a 6% para homens.
Para as trabalhadoras da oficina de Noori, a oportunidade de ganhar algum dinheiro supera outras preocupações.
"Principalmente nossas famílias estão preocupadas com nossa segurança. Nos ligam repetidamente quando não chegamos em casa a tempo, mas todos continuamos trabalhando... porque temos problemas econômicos", disse Lailuma, que forneceu apenas um nome por temer pela sua segurança.
Outra trabalhadora, Saleha, agora sustenta toda a sua família.
"Minha renda mensal é de cerca de 1.000 afeganes (10 dólares), e sou a única pessoa que trabalha na minha família... Infelizmente, desde que o Taliban chegou ao poder, não há (praticamente) nenhuma renda."
(Da redação de Cabul)