Investing.com – Os analistas do Morgan Stanley (BVMF:MSBR34) (NYSE:MS) afirmam que o recente corte de 50 pontos-base (pb) pelo Federal Reserve (Fed) não sinaliza uma mudança profunda na estratégia do banco central americano, e o impacto sobre outros bancos centrais mundiais será limitado.
Eles observam que, embora o movimento do Fed demonstre seu compromisso em conter os riscos inflacionários, espera-se que futuros cortes sigam em incrementos de 25 pb. Jerome Powell, presidente da instituição, destacou que a confiança na economia e no mercado de trabalho permanece forte, com cortes adicionais dependendo de dados futuros, como criação de empregos (payroll) e os gastos dos consumidores.
O banco ressalta que a resposta dos bancos centrais globais continuará sendo influenciada por condições internas. Por exemplo, o Banco Central do Brasil aumentou os juros, devido ao forte crescimento econômico e à depreciação da moeda, ambos sinais de pressões inflacionárias. Já o banco central da Indonésia cortou taxas após a apreciação de sua moeda, o que aliviou os riscos de inflação.
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Esses casos ilustram como os mercados emergentes equilibram as condições financeiras globais com seus fatores econômicos locais. Nos mercados desenvolvidos, os analistas do Morgan não esperam uma reação imediata ao movimento do Fed. O Banco Central Europeu (BCE) deve manter sua abordagem cautelosa, com um corte adicional esperado em dezembro. O Banco da Inglaterra (BoE), que pausou os cortes em setembro devido à inflação, deve retomar as reduções em novembro. Já o Banco do Japão (BoJ) deve manter a política estável até o início de 2024.
Embora o corte de 50 pb do Fed possa sugerir ajustes maiores no futuro, o Morgan enfatiza que isso não representa uma mudança fundamental na estratégia. O ciclo de afrouxamento é visto como positivo para ativos de risco, mas incertezas permanecem, especialmente em relação à eleição presidencial dos EUA e seus possíveis efeitos nas previsões para 2025.
O que esperar dos mercados com início de flexibilização?
A decisão do Fed de cortar os juros em 50 pb representa uma mudança agressiva de política monetária, com Jerome Powell reafirmando o compromisso de não deixar a economia "ficar para trás" em termos de controle inflacionário.
Esse corte inicial, considerado rigoroso, trouxe alívio aos investidores, indicando que o Fed está disposto a agir rapidamente se as condições econômicas piorarem. Segundo o UBS, esse movimento pode ser visto como a reativação da chamada "Fed put", em que novos cortes podem ser acionados se os dados, principalmente do mercado de trabalho, começarem a se deteriorar. Embora os mercados tenham respondido positivamente, a atenção agora se volta para a eficácia desses cortes e se eles podem garantir um "pouso suave" para a economia americana.
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O UBS acredita que um pouso suave é provável, mas a confiança dos investidores em uma expansão econômica prolongada dependerá dos próximos dados, especialmente os relatórios de emprego, como o de setembro.
O debate agora gira em torno da taxa terminal ou neutra, ou seja, até onde o Fed reduzirá as taxas neste ciclo. Embora o cenário de pouso suave não dependa se as taxas cairão para 3% ou 3,5%, a perspectiva para a taxa neutra reflete questões mais amplas sobre a economia pós-pandemia. O UBS sugere que um cenário de forte crescimento e inflação mais elevada do que o normal, semelhante aos "Loucos Anos 20", pode ser um risco de alta subestimado.
Atualmente, os dados econômicos continuam robustos, com estimativas de crescimento para o terceiro trimestre entre 2,5% e 3%. O banco indica que os investidores estão cada vez mais confortáveis com um ambiente macroeconômico de cortes de juros preventivos, desinflação moderada e crescimento estável. No entanto, incertezas permanecem sobre a trajetória de longo prazo da economia dos EUA e a eventual taxa neutra.
Powell descreveu o corte de juros como uma "recalibração" para tornar a política monetária menos restritiva, sugerindo que os investidores também podem precisar ajustar suas expectativas sobre a taxa terminal. O UBS projeta que o Fed cortará ao menos 100 pb neste ano, e o cenário para 2025 ainda é incerto, especialmente diante da indefinição fiscal após as eleições.
O banco conclui que, embora os mercados tenham precificado o pouso suave, a volatilidade pode ressurgir à medida que os investidores aguardam sinais mais claros de que esse cenário se estenderá para um período mais longo de crescimento econômico.