(Reuters) - O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, discursará em Nova York nesta quinta-feira, com seus colegas do banco central em aparente acordo para manter os juros inalterados em sua próxima reunião, daqui a duas semanas, mas com uma incerteza ainda grande sobre o que acontecerá depois disso.
Em comentários programados para as 13h, no horário de Brasília, no Economic Club of New York, Powell praticamente encerrará um mês frenético desde a última reunião das autoridades em meados de setembro, quando eles optaram por manter inalterada a taxa referencial de empréstimos em uma faixa de 5,25% a 5,50% para avaliar a evolução da economia.
Desde então, os dados mostraram que o crescimento do emprego nos Estados Unidos voltou a acelerar de forma inesperada, as vendas no varejo desafiaram as previsões de desaceleração e as diversas medidas de preços ofereceram sinais inconsistentes sobre se a inflação está no caminho certo para retornar à meta de 2% do Fed em tempo hábil.
Como se isso não bastasse, o mercado de Treasuries está se recuperando e apertando as condições financeiras em um ritmo acelerado. O conflito mais mortal dos últimos anos no Oriente Médio eclodiu, sem uma solução rápida à vista e com a preocupação de que possa se transformar em uma guerra regional com consequências econômicas desconhecidas.
Horas antes do pronunciamento de Powell, a última leitura do mercado de trabalho mostrou que os novos pedidos de auxílio-desemprego caíram para o nível mais baixo desde janeiro, embora o número de pessoas que recebem benefícios por mais de uma semana tenha subido para o nível mais alto desde julho.
Ao mesmo tempo, a liquidação do mercado de Treasuries continuava, ameaçando elevar o rendimento da nota de 10 anos, que é utilizada como referência de crédito para famílias e empresas, acima do limite de 5% pela primeira vez desde 2007.
O chair do Fed deve analisar tudo isso enquanto caminha por uma linha tênue entre parecer muito confiante ou muito cético, sendo que uma inclinação muito grande em qualquer direção tem o potencial de balançar os mercados financeiros - e as condições financeiras gerais em seu rastro - em direções indesejadas.
A aparição de Powell ocorre menos de 48 horas antes do início do tradicional período de silêncio que antecede a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) de 31 de outubro a 1º de novembro, que define os juros.
Embora algumas outras autoridades do Fed tenham aparições públicas previstas para essa quinta e na sexta-feira, antes do início do período de silêncio no sábado, são os comentários de Powell que darão o tom das expectativas para a reunião, e os mercados financeiros ficarão atentos a cada palavra.
"Acreditamos que o presidente do Fed manterá a mensagem transmitida pelo vice-chair (Philip) Jefferson de que os dados estão chegando mais fortes do que o esperado, mas também houve um grande movimento nos rendimentos, o que restringiu as condições financeiras, portanto, não há urgência para uma resposta em novembro e o Fed pode adotar uma abordagem de esperar para ver", escreveu o vice-presidente da Evercore ISI, Krishna Guha.
Se o Fed deixar os juros inalterados em duas semanas, como agora é amplamente esperado, isso marcará a primeira reunião consecutiva sem aumento de juros desde que o Fed deu início à sua campanha de aperto em março de 2022.
Uma pesquisa da Reuters com mais de 100 economistas, publicada na quarta-feira, mostrou que mais de 80% não esperam nenhum aumento nos juros na próxima reunião, e a maioria também acredita que o Fed já tenha terminado seu ciclo de aperto, embora a maioria das autoridades em sua reunião de setembro tenha projetado que provavelmente seria necessário mais um aumento de 0,25 ponto percentual.
(Por Dan Burns e Ann Saphir)