Por Anna Flávia Rochas
SÃO PAULO (Reuters) - O período úmido 2014/2015 que inicia mais fortemente em novembro deve ter mais chuva que um ano antes no Sudeste, mas a situação das represas de hidrelétricas ainda pode ser um problema em 2015 já que as temperaturas ficarão acima da média, o que eleva o consumo de energia.
Meteorologistas consultados pela Reuters consideram que até agora os sinais são de que as chuvas no Sudeste durante o verão ficarão entre a média e um pouco abaixo da média, o que ainda deixa o setor elétrico em alerta, já que o nível das represas do Sudeste atualmente está em quase 24 por cento.
O baixo nível das represas causou uma série de desequilíbrios no setor elétrico do país. As usinas térmicas nacionais estão operando de maneira contínua há meses, o que tem impulsionado os preços da energia e obrigado o governo federal a costurar acordos de empréstimos para distribuidoras que serão pagos pelos consumidores a partir do próximo ano, podendo impactar na inflação.
Especialistas do setor elétrico têm dito que apenas um período de chuvas não será suficiente para recuperar os reservatórios das usinas a cerca de 60 por cento de armazenamento, um nível considerado confortável para o país enfrentar o próximo período de estiagem, a partir de abril de 2015.
Durante o período chuvoso já é esperado um aumento natural do consumo de energia de cerca de 5 mil a 8 mil megawatts (MW) médios, segundo o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos, enquanto há uma redução natural na produção de energia das térmicas a bagaço de cana e usinas eólicas por fatores sazonais.
Assim, as chuvas precisam ser abundantes o bastante para encher os reservatórios das hidrelétricas ao mesmo tempo em que o uso dessas represas aumenta para atender ao consumo de energia maior, natural dessa época do ano. "Então, se não chover, a velocidade em que o nível dos reservatórios vai cair é maior que o que ocorre agora", disse Vlavianos, cuja última previsão para risco de racionamento de energia em 2015 é de 17 por cento.
RETORNO DAS CHUVAS?
A expectativa de retorno das primeiras pancadas de chuva de fim de ano está se confirmando, segundo o meteorologista da Climatempo, Alexandre Nascimento, mas ainda é preciso muito mais chuva para elevar o nível das represas. "O nível dos reservatórios geralmente começa a parar de cair, se a chuva persistir, em novembro. E depois, a partir de dezembro é que efetivamente começa a acumular água", estima.
A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Neide Oliveira, lembra que a probabilidade de ocorrência do El Niño que havia no início do ano, trazendo mais chuva para a região Sudeste, foi reduzida gradativamente. "Pelos modelos, a tendência é ter um pouco mais de chuva. Ano passado, as chuvas foram muito variáveis", disse ela.
O Sudeste/Centro Oeste é a principal área para o abastecimento de energia do país por meio de hidrelétricas além de concentrar a maior parte do consumo de energia. Mas apenas o Sul do país deverá receber chuvas acima da média durante o verão, enquanto Norte e Nordeste deverão ter afluências abaixo das médias históricas.
"Como a gente não tem grandes estimativas de chuva acima da média, o problema (dos reservatórios) está sendo empurrado para 2015", disse Alexandre Nascimento, da Climatempo.
O meteorologista da Somar, Celso Oliveira, acrescenta que o próximo período úmido deve se mostrar melhor que o último, mas ainda não trará até o fim do ano chuvas regulares, aquelas que duram várias semanas e são necessárias para encher represas.
"O que a gente está observando nessa primavera é muita oscilação e não temos persistência das chuvas. Não vamos ter isso, pelo menos, até o fim do ano", disse.
O nível dos reservatórios do Sudeste/Centro Oeste é o pior para o período desde 2001, ano do racionamento de energia no país. O patamar dessas represas segue uma trajetória de queda desde junho de 2013, tendo registrado apenas um aumento de cerca de 1,6 ponto percentual entre novembro e dezembro de 2013, para depois voltarem a cair até o nível atual de 24,11 por cento. Ou seja, o último período chuvoso foi tão ruim que nem conseguiu estabilizar o nível das represas.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estima que o nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste do Brasil deverá chegar a cerca de 21 por cento ao final de outubro. Nas estimativas do governo federal, o risco de haver qualquer déficit de energia em 2015 é de 4,7 por cento para essa região. Essa estimativa, dada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) na quarta-feira, está abaixo do risco de déficit considerado tolerável de 5 por cento.
TEMPERATURA CONTINUA ALTA
A queda persistente no nível dos reservatórios durante o últim
Por Anna Flávia Rochas
SÃO PAULO (Reuters) - O período úmido 2014/2015 que inicia mais fortemente em novembro deve ter mais chuva que um ano antes no Sudeste, mas a situação das represas de hidrelétricas ainda pode ser um problema em 2015 já que as temperaturas ficarão acima da média, o que eleva o consumo de energia.
Meteorologistas consultados pela Reuters consideram que até agora os sinais são de que as chuvas no Sudeste durante o verão ficarão entre a média e um pouco abaixo da média, o que ainda deixa o setor elétrico em alerta, já que o nível das represas do Sudeste atualmente está em quase 24 por cento.
O baixo nível das represas causou uma série de desequilíbrios no setor elétrico do país. As usinas térmicas nacionais estão operando de maneira contínua há meses, o que tem impulsionado os preços da energia e obrigado o governo federal a costurar acordos de empréstimos para distribuidoras que serão pagos pelos consumidores a partir do próximo ano, podendo impactar na inflação.
Especialistas do setor elétrico têm dito que apenas um período de chuvas não será suficiente para recuperar os reservatórios das usinas a cerca de 60 por cento de armazenamento, um nível considerado confortável para o país enfrentar o próximo período de estiagem, a partir de abril de 2015.
Durante o período chuvoso já é esperado um aumento natural do consumo de energia de cerca de 5 mil a 8 mil megawatts (MW) médios, segundo o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos, enquanto há uma redução natural na produção de energia das térmicas a bagaço de cana e usinas eólicas por fatores sazonais.
Assim, as chuvas precisam ser abundantes o bastante para encher os reservatórios das hidrelétricas ao mesmo tempo em que o uso dessas represas aumenta para atender ao consumo de energia maior, natural dessa época do ano. "Então, se não chover, a velocidade em que o nível dos reservatórios vai cair é maior que o que ocorre agora", disse Vlavianos, cuja última previsão para risco de racionamento de energia em 2015 é de 17 por cento.
RETORNO DAS CHUVAS?
A expectativa de retorno das primeiras pancadas de chuva de fim de ano está se confirmando, segundo o meteorologista da Climatempo, Alexandre Nascimento, mas ainda é preciso muito mais chuva para elevar o nível das represas. "O nível dos reservatórios geralmente começa a parar de cair, se a chuva persistir, em novembro. E depois, a partir de dezembro é que efetivamente começa a acumular água", estima.
A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Neide Oliveira, lembra que a probabilidade de ocorrência do El Niño que havia no início do ano, trazendo mais chuva para a região Sudeste, foi reduzida gradativamente. "Pelos modelos, a tendência é ter um pouco mais de chuva. Ano passado, as chuvas foram muito variáveis", disse ela.
O Sudeste/Centro Oeste é a principal área para o abastecimento de energia do país por meio de hidrelétricas além de concentrar a maior parte do consumo de energia. Mas apenas o Sul do país deverá receber chuvas acima da média durante o verão, enquanto Norte e Nordeste deverão ter afluências abaixo das médias históricas.
"Como a gente não tem grandes estimativas de chuva acima da média, o problema (dos reservatórios) está sendo empurrado para 2015", disse Alexandre Nascimento, da Climatempo.
O meteorologista da Somar, Celso Oliveira, acrescenta que o próximo período úmido deve se mostrar melhor que o último, mas ainda não trará até o fim do ano chuvas regulares, aquelas que duram várias semanas e são necessárias para encher represas.
"O que a gente está observando nessa primavera é muita oscilação e não temos persistência das chuvas. Não vamos ter isso, pelo menos, até o fim do ano", disse.
O nível dos reservatórios do Sudeste/Centro Oeste é o pior para o período desde 2001, ano do racionamento de energia no país. O patamar dessas represas segue uma trajetória de queda desde junho de 2013, tendo registrado apenas um aumento de cerca de 1,6 ponto percentual entre novembro e dezembro de 2013, para depois voltarem a cair até o nível atual de 24,11 por cento. Ou seja, o último período chuvoso foi tão ruim que nem conseguiu estabilizar o nível das represas.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estima que o nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste do Brasil deverá chegar a cerca de 21 por cento ao final de outubro. Nas estimativas do governo federal, o risco de haver qualquer déficit de energia em 2015 é de 4,7 por cento para essa região. Essa estimativa, dada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) na quarta-feira, está abaixo do risco de déficit considerado tolerável de 5 por cento.
TEMPERATURA CONTINUA ALTA
A queda persistente no nível dos reservatórios durante o último período úmido ocorreu porque além de chuvas muito abaixo da média para o período, o país foi acometido por temperaturas também muito acima do normal. Altas temperaturas elevam o consumo de energia elétrica, principalmente pelo uso de equipamentos de refrigeração e aceleram a evaporação dos reservatórios.
Para 2015, o meteorologista da Climatempo não vê um período tão prolongado de calor extremo no verão conforme percebido no verão 2013/14, mas as temperaturas deverão se manter altas. Neide, do INMET, também afirma que o verão continuará tendo temperaturas acima da média.
Oliveira da Somar estima que as temperaturas no verão deverão ficar entre 1 a 2 graus acima da média principalmente na região Sul, no Mato Grosso do Sul e São Paulo, de janeiro a março.