SÃO PAULO (Reuters) - O Santander Brasil (SA:SANB11) revisou para baixo suas expectativa para o desempenho do PIB neste ano, passando a ver contração de 2,2% em seu cenário-base, ante projeção anterior de crescimento de 1%, devido aos efeitos do coronavírus sobre a atividade.
Mas a economista-chefe do banco, Ana Paula Vescovi, considera 25% de chance de o tombo ser ainda maior, de 6,00%, e outros 30% de a queda ficar em 3,60%.
Portanto, dentro da faixa de probabilidade de 80%, na qual a equipe macro do Santander fez seus cálculos, há 55% de chance de os resultados virem piores que os contemplados no cenário básico. Os demais 25% se referem a estimativas num quadro melhor: 20% de probabilidade de o PIB cair 1,50% em 2020 e 5% de retrair 0,40%.
"Isso mostra a grande incerteza dos cenários. Vai depender de quanto tempo o isolamento social será necessário, como que vai se dar essa saída do processo de isolamento social, o grau de contágio que a sociedade vai sofrer, quão atingida será a sociedade nesse processo...", disse Vescovi, ex-secretária do Tesouro Nacional.
A projeção central do Santander é que a economia cresça 1,70% em 2021.
O cenário-base do banco considera o isolamento social até o fim de abril, com a economia totalmente reaberta até o fim de julho. Do lado de empregos, haveria algumas perdas de vagas e poucos casos de falências de empresas.
Já o pior dos cenários leva em conta um "lockdown" até meados de junho e uma economia totalmente operacional apenas em 2021, com um salto na taxa de desemprego e falências mais generalizadas.
Com a economia em retração, a inflação desacelerará para 2,2% em 2020 (ante 4,31% em 2019) e ficaria em 3,1% em 2021. As taxas previstas são bem abaixo das metas para 2020 (4,00%) e 2021 (3,75%).
A queda na inflação decorrerá de baixas em preços regulados e do impacto das medidas implementadas para controlar a disseminação do vírus. Antes, o Santander previa IPCA de 3,0% em 2020 e de 3,5% em 2021.
Assim, haveria espaço para a Selic cair a 3,00% ao fim de 2020 (um corte de 0,50 ponto percentual em maio e outro de 0,25 ponto em junho), antes de voltar a 3,50% em 2021. No pior dos cenários para a atividade econômica, a Selic poderia descer a 2,0%.
O juro básico está atualmente na mínima recorde de 3,75%. Antes, o Santander calculava o juro em 3,50% ao fim deste ano e de 4,00% em 2021, pelo cenário-base.
Mas o Banco Central tenderá a concentrar os esforços para ativar a economia via medidas macroprudenciais e de regulação, e não na política monetária, na avaliação de Vescovi.
"O BC já afirmou que o risco é de quedas mais fortes na Selic se mostrarem contraproducentes. Isso poderia afetar os preços dos ativos e mexer mesmo com a inflação", disse a economista-chefe do Santander.
Nesse contexto, Vescovi acredita numa "sobrevivência" do real com o fim da crise do Covid-19. Mas, antes, a combinação entre uma "forte, mas temporária" redução nos fluxos internacionais de comércio e dos preços das commodities imporia outro revés ao real, com o dólar devendo renovar suas máximas históricas "nos próximos meses".
"Entretanto, como esperamos que a resolução das pandemias do Covid-19 comece no terceiro trimestre, o pacote de choques negativos deve começar a ser desfeito, fornecendo algum alívio à moeda (real) a partir de então, em nossa opinião", disse o Santander.
O banco prevê dólar a 4,90 reais ao fim de 2020 e a 4,10 reais no término de 2021 --as estimativas anteriores eram 4,30 reais e 4,00 reais, respectivamente. A moeda fechou a segunda-feira perto de 5,30 reais.
(Por José de Castro)