Por Steve Gorman
LOS ANGELES (Reuters) - O comediante Chris Rock iniciou sua segunda apresentação do Oscar confrontando de forma imediata e sem pudores o mal estar pairando na cerimônia da noite de domingo: a polêmica racial causada pela ausência de indicados negros na premiação mais importante de Hollywood.
Em um monólogo de abertura apimentado com comentários mordazes sobre o que descreveu como uma discriminação semelhante à das "fraternidades" universitárias dos Estados Unidos, e enraizada na indústria cinematográfica, Rock preparou o clima para uma noite de tiradas que volta e meia retornavam ao tema das políticas raciais.
Ao fazê-lo, ele transformou uma premiação conhecida há tempos por sua pompa em uma transmissão de três horas e meia pontuada por sátiras contundentes sobre tópicos como inclusão e diversidade, incitados por uma campanha nas redes sociais com a hashtag #OscarsSoWhite (OscarsTãoBrancos) e pelo movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).
Mas a questão racial foi só um dos elementos que fizeram da 88ª edição do Oscar uma das mais relevantes de sua história. As mensagens incluíram uma participação especial do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, exortando uma tomada de posição contra a violência sexual em universidades até o apelo apaixonado de Leonardo DiCaprio, vencedor do prêmio de melhor ator, pelos cuidados com o planeta.
A diferença de tom ficou evidente logo no início. Passeando pelo palco de smoking branco e gravata borboleta, Rock deu as boas-vindas a uma cerimônia "também conhecida como prêmio escolha dos brancos", acrescentando que "vocês se dão conta que, se eles indicassem apresentadores, eu nem teria conseguido este emprego?"
Dali em diante, ficou claro que Rock não iria pegar leve e que seu discurso sem papas na língua pode ajudar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas a encarar de frente o problema da diversidade.
Indagando-se com surpresa fingida por que os negros não protestaram contra a falta de diversidade no Oscar nos anos 1950 ou 1960 como fizeram este ano, ele respondeu sua própria pergunta: "Porque tínhamos coisas reais sobre as quais protestar na época. Estávamos muito ocupados sendo estuprados e linchados para nos preocuparmos com quem ganhou o prêmio de melhor fotografia".
Mas Rock não concentrou suas farpas exclusivamente em Hollywood. Ele arrancou uma das maiores gargalhadas do evento ao brincar que a homenagem "in memoriam" do Oscar a figuras importantes do cinema falecidas no último ano seria devotada desta vez às "pessoas negras que foram mortas pela polícia a caminho do cinema".