Colaborar ou emigrar: o dilema dos porto-riquenhos diante da crise

Publicado 03.07.2015, 10:03
Atualizado 03.07.2015, 10:31
© Reuters.  Colaborar ou emigrar: o dilema dos porto-riquenhos diante da crise

Jorge J. Muñiz Ortiz.

San Juan, 3 jul (EFE).- "Devemos trabalhar juntos" e "aqui não há futuro" são as duas ideias que dominam as reflexões dos porto-riquenhos nos últimos dias, após o recente reconhecimento de seu governo de que a situação fiscal e financeira é "insustentável".

Enquanto cerca de 50 mil porto-riquenhos emigram a cada ano aos Estados Unidos em busca de melhores perspectivas, os que ficam na ilha se dividem entre os que se deixam levar pelo pessimismo e os que confiam que um trabalho conjunto pode "voltar a colocar Porto Rico nos trilhos".

"Agora, mais do que nunca, temos que trabalhar juntos, pois, se não fizermos isso, ficaremos estagnados", afirmou em entrevista à Agência Efe Gérard Estrada, um jovem de 22 anos que trabalha em meio período em uma barraca de doces em um centro comercial da capital porto-riquenha.

Nesta semana, o governador de Porto Rico, Alejandro García Padilla, admitiu que a dívida de US$ 73 bilhões da ilha "é impagável" nos termos atuais, motivo pelo qual convocará os credores para tentar negociar uma moratória que lhe permita atender suas obrigações com a população.

Porto Rico é território americano desde 1898 e é classificado como Estado Livre Associado aos EUA, com Constituição própria e um grande grau de autonomia, embora o governo americano se responsabilize por âmbitos como defesa, moeda, imigração e alfândegas, entre outros.

Por isso, Porto Rico recebe recursos de Washington para financiar parte da atividade do governo e programas sociais, como o Programa de Assistência Nutricional, que beneficia 670 mil famílias na ilha.

"Se os EUA vão nos ajudar, que façam isso logo", exigiu Estrada, que mesmo assim considera necessário que os porto-riquenhos "se unam como povo, porque assim poderão ajudar uns aos outros".

Em sua opinião, como na de muitos outros habitantes da ilha, é também urgente "segurar as pontas", algo que sua família começou a fazer limitando as idas a restaurantes durante a semana.

"O lado 'bom' desta crise é que haverá mais união familiar", comentou o jovem, convencido de que agora em diante as famílias se reunirão mais em casa.

De qualquer forma, Estrada pediu aos legisladores que diminuam os seus salários, e aos funcionários públicos para que reduzam suas jornadas trabalhistas, além de defender o fomento de um espírito de união entre a população para buscar caminhos para superar a crise.

O otimismo de Estrada, no entanto, não encontra eco em muitas pessoas, que se reconhecem pessimistas diante deste panorama e que não escondem sua intenção de abandonar a ilha para buscar mais alternativas nos EUA, onde os porto-riquenhos não precisam de visto para viver ou trabalhar.

"Tudo isso é triste. Eu não vejo que haja futuro, que haja nenhum porvir", opinou o jovem artesão Sebastián Jover enquanto preparava sandálias para vender a turistas e locais.

"Porto Rico não gera nada que possamos dizer que o faça se destacar, porque nem sequer temos agricultura em grande escala. Não geramos negócios, e é triste, pois é um país que só se sustenta das ajudas (federais que recebe de Washington)", lamentou.

A ilha perde anualmente cerca de 1% de sua população, e teme-se que, com a piora da situação, esta emigração aumente ainda mais.

A jovem estudante Elizabeth Dorna lembra que os problemas financeiros de Porto Rico são conhecidos há 40 anos, quando na década de 70, sob os governos de Luis A. Ferré (1969-1973), Rafael Hernández Colón (1973-1977) e Carlos Romero Barceló (1977-1981), "nada foi feito em prol da ilha".

"Olho para todos os lados e não vejo todos esses trilhões que investiram em infraestrutura", criticou, argumentando que "a má administração foi vital para o acúmulo da dívida".

"É injusto que agora tudo isso esteja sendo pago pelo povo", concluiu.

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