Atenas, 17 jun (EFE).- O Comité de Auditoria à Dívida, formado por especialistas internacionais que estão realizando uma auditoria na dívida pública grega, afirmou nesta quarta-feira que a Grécia não deve pagar a dívida contraída entre 2010 e 2015 porque é fruto de acordos que infringem os direitos humanos.
"A Grécia não só não pode pagar a dívida, mas não deve pagá-la, porque a dívida assumida pelos acordos com a troika infringem diretamente os direitos humanos dos gregos", assinalou a comissão, criada pelo parlamento, ao apresentar os resultados preliminares desta pesquisa.
A presidente do parlamento grego, Zoi Konstantopoulou, afirmou hoje que a Grécia "não pode se sentir obrigada" a pagar essa dívida porque não é responsável por ela.
Os primeiros resultados analisaram o período compreendido desde 2010, na assinatura do primeiro resgate com a troika, formada por Comissão Europeia (CE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) até hoje, embora o objetivo da comissão seja "analisar o crescimento da dívida pública grega desde a década de 1980".
O comitê é coordenado pelo analista político belga Éric Toussaint, PhD em Ciência Política pela Universidade de Liège e pela Universidade Paris VIII, e começou a trabalhar voluntariamente em abril.
"O comitê considera que a Grécia foi, e ainda é, vítima de um ataque premeditado e organizado por FMI, BCE e CE. Esta missão violenta, ilegal e imoral tem como objetivo exclusivamente transferir a dívida privada ao setor público", destacou o relatório.
Entre os que deram depoimentos aos analistas estão o conselheiro do presidente da Comissão Europeia, Philippe Legrain, o ex-representante grego do Fundo Monetário Internacional, Panagiotis "Takis" Roumeliotis, que, segundo Konstantopoulou, admitiram que o "plano grego foi projetado para forçar o país a pagar a dívida".
Também Toussaint, porta-voz do Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo, atacou o FMI e mostrou um documento que teria seria entregue por Rumeliotis que garante que o organismo estava consciente do alto custo social das medidas exigidas, e que elas contribuiriam para aumentar a dívida.
Segundo Toussaint, a crise grega foi responsabilidade dos bancos, como ocorreu nos Estados Unidos, na Irlanda e na Espanha, e afirmou que "no período anterior à crise o gasto público grego era inferior à média dos países europeus ocidentais".
Ele ainda reiterou que somente uma pequena parte dos créditos dados à Grécia chegou a ser usados para a despesa corrente do Estado, e a maior parte do dinheiro emprestado pela troika foi destinado ao pagamento da dívida.
"Menos de 10% dos recursos dos resgates chegaram à população grega", acusou Toussaint.
Konstantopoulou, além disso, enfatizou que "este governo (do Syriza) é o primeiro que não colaborou nem participou da criação e do aumento da dívida, o que legitima o parlamento a usar todas as ferramentas possíveis para não pagá-la, ainda mais se isso puser em perigo os direitos das pessoas".
No comunicado, a comissão detalhou que as autoridades gregas, junto com outros governos da União Europeia, "conspiraram contra a reestruturação da dívida pública para proteger as instituições financeiras".
A presidente da Câmara destacou que "o povo grego não é responsável pela dívida pública, mas 'vítima' dela".
Além disso, lembrou a exigência do pagamento de reparações de guerra à Alemanha, e argumentou que a Grécia foi "generosa" com o país germânico quando houve o alívio dessa dívida, em 1953, apesar de terem cometido crimes contra a humanidade, e criticou não receber agora essa generosidade de volta.
A Grécia perdoou no pós-guerra o pagamento do 'empréstimo forçado' feito pela Alemanha nazista, estimado hoje em 123 milhões de euros, o que representaria metade da gigantesca dívida grega.
Estiveram presentes ao evento de entrega do relatório o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ministros e membros da equipe de governo, especialistas e ativistas internacionais em temas relacionados à dívida, vindos principalmente de Brasil, Argentina e Equador.
A apresentação das conclusões desta auditoria chega em um momento-chave para a Grécia, quando as negociações com os credores estão interrompidas, e na véspera da reunião dos ministros de Economia e Finanças da zona do euro, a poucos dias para o vencimento do prazo de pagamento de uma série de parcelas de empréstimos ao FMI e ao BCE.