Por Philip Blenkinsop
BRUXELAS (Reuters) - A União Europeia está considerando opções para apaziguar Donald Trump em seu retorno à Casa Branca, enquanto se prepara para a retomada das tarifas dos Estados Unidos e outras ameaças comerciais, além de trocas difíceis sobre como tratar a China.
Trump alertou, pouco antes de sua vitória presidencial nos EUA, que o bloco de 27 nações terá que "pagar um preço alto" por não comprar exportações norte-americanas suficientes.
Bruxelas reconhece que as ameaças de tarifas de 10% sobre todas as importações dos EUA e de 60% sobre as da China são confiáveis, e não apenas retórica de campanha, afirmam as autoridades da UE.
A Comissão Europeia já começou a modelar o impacto sobre o bloco como um todo e sobre os países que provavelmente serão os mais atingidos. Entre eles, podem estar a Alemanha, grande produtora de automóveis, e a Itália, o segundo maior exportador da UE para os Estados Unidos.
Embora cautelosos em público, alguns governos expressaram apreensão no período que antecedeu a eleição, segundo diplomatas da UE.
Além do impacto direto das tarifas sobre seus produtos, a UE poderia sofrer um segundo golpe, pois os produtores chineses, que enfrentam efetivamente maiores barreiras aos EUA, podem direcionar mais exportações para a Europa.
Em resposta às tarifas de Trump sobre o aço em 2018, a UE adotou medidas de proteção para limitar as importações de aço isentas de tarifas para seus mercados. Mas essas medidas vão expirar em junho de 2026, sem possibilidade de prorrogação de acordo com as regras da UE ou da OMC.
A UE tentará entrar em contato com o futuro governo Trump antes de sua posse e já está pensando em futuras áreas de cooperação que poderiam aliviar ou até mesmo eliminar a ameaça tarifária.
Um campo possível é o gás natural liquefeito (GNL), que a UE poderia importar mais dos EUA para aliviar o déficit comercial que preocupa Trump.
FAZENDO NEGÓCIOS COM TRUMP
Em 2018, Trump e o então chefe executivo da UE, Jean-Claude Juncker, fecharam um acordo que incluía o desejo da UE de importar mais GNL dos EUA. Isso ajudou a evitar novas tarifas sobre os produtos da UE, além do aço e do alumínio. Bruxelas espera que Trump seja um presidente com o qual possa voltar a fazer negócios.
Os investimentos na UE para diversificar o fornecimento de energia, especialmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia, podem levar a um aumento dos fluxos de GNL dos EUA, acreditam as autoridades da UE.
Alguns diplomatas da UE sugerem que a China, com a qual a política dos EUA provavelmente se tornará mais rígida, poderia ser outra área de cooperação, embora o desejo da UE de se ater às regras do comércio global e de "minimizar o risco", mas não se desvincular da China, dificultará as discussões.
A Presidência de Trump tem outras implicações importantes para a Europa, que enfrenta o desafio de longo prazo de como financiar os gastos com o bem-estar de uma população que está envelhecendo durante um crescimento econômico modesto.
Se Trump reduzir o apoio à aliança militar da Otan e à guerra da Ucrânia, os governos da Europa terão que financiar o aumento dos gastos com defesa a partir de orçamentos já sobrecarregados por níveis de dívida nacional próximos a 90% da produção.
As propostas de Trump, se aprovadas, pesarão sobre o crescimento europeu e provavelmente reduzirão a inflação, especialmente se os fabricantes, que já estão sofrendo com uma longa recessão industrial, começarem a reduzir a força de trabalho.
A alta das importações da China também poderá enfraquecer os preços, ao passo que o aumento da perfuração de petróleo e da produção de carvão nos EUA poderá aumentar as pressões deflacionárias.
As tarifas inflacionárias e o déficit orçamentário maior de Trump provavelmente fortalecerão o dólar, de modo que os EUA poderão exportar parte de sua própria inflação, mas isso não será suficiente para compensar os outros fatores que pesam sobre os preços.
Isso poderá forçar o Banco Central Europeu a reduzir as taxas de juros para menos de 2% no próximo ano, onde estimulará novamente o crescimento após vários anos de políticas restritivas.
(Reportagem adicional de Mark John e Balazs Koranyi)