Paris, 4 jul (EFE).- Votar pelo "não" no referendo que será realizado neste domingo representará uma "catástrofe imediata" para a Grécia porque a posição do governo de Alexis Tsipras para renegociar com os credores seria ilusória, avaliou Jean-Claude Trichet, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE).
Em entrevista publicada neste sábado pelo jornal francês "Le Monde" dentro de uma edição especial dedicada à crise grega, Trichet questionou as pretensões de Tsipras, que com um possível triunfo do "não" amanhã teria uma espécie de permissão para negociar um acordo mais propício às vontades da Syriza.
"Como a credibilidade da Grécia foi drasticamente diminuída com as peripécias anteriores, qualquer enfraquecimento do acordo em termos econômico e orçamentário corre o risco de não convencer ninguém e de não restabelecer confiança", analisou.
Trichet, que esteve à frente do BCE entre 2003 e 2011, disse ser um defensor do "sim". Perguntado sobre o risco de uma saída da Grécia para a moeda única, estimou que a zona do euro "ficará relativamente frágil a curto prazo", porque, após a crise de 2010-2011, houve "grandes avanços" na resistência econômica e financeira do bloco.
"O verdadeiro risco da saída da Grécia é, sobretudo, geopolítico. A credibilidade da própria Europa seria gravemente afetada. Demonstraria que a União Europeia e as instituições da zona do euro são incapazes de tramitar de maneira ordenada um problema relativamente menor", avaliou o ex-presidente do BCE.
Para Grécia, disse Trichet, a saída acarretaria "sofrimentos consideráveis" quando o país tinha feito "esforços muito importantes" que estavam permitindo o equilíbrio das contas externas e esperar pelo crescimento e a criação de empregos.
Segundo as previsões do ex-presidente do BCE, o "não" geraria uma escassez de euros que obrigaria os gregos a encontrar substitutos, haveria "uma redução enorme do PIB", as receitas dos gregos afundariam em termos reais, além da possibilidade de uma grande inflação dos produtos importados.
"Espero que o governo grego esteja consciente das dificuldades enormes que seria preciso enfrentar", assinalou Trichet.