Por Alonso Soto
BRASÍLIA (Reuters) - O governo da presidente Dilma Rousseff está preocupado que o possível aumento da taxa básica de juros na próxima semana possa frustrar seus esforços para recuperar a fragilizada economia, ao mesmo tempo que não conseguirá controlar a inflação, disseram fontes do governo nesta quinta-feira.
O Partido dos Trabalhadores, sindicatos e empresários estão pressionando o Banco Central para manter a Selic inalterada e evitar o aprofundamento do que caminha para ser a pior recessão do Brasil em mais de um século.
O BC elevou a taxa de juros em 7 pontos percentuais desde 2013, para o atual patamar de 14,25 por cento --a maior taxa entre grandes economias-- mas não foi suficiente para conter a alta de preços. A inflação encerrou 2015 em 10,67 por cento, mais que o dobro da meta, de 4,5 por cento.
A maioria dos economistas espera que o BC suba a Selic em 0,50 ponto percentual na próxima semana, mas eles temem que tal movimento coloque a autoridade monetária em confronto com a postura fiscal mais expansionista do governo. As autoridades têm quase certeza que o BC vai subir os juros na próxima semana, apesar de algumas dúvidas recentes entre operadores do mercado, disseram duas fontes.
O plano do governo de aumentar o crédito para alguns setores da economia e de ajudar a indústria automotiva e pequenas empresas mostra a crescente desconexão com o Banco Central, disseram.
Apesar de o governo da presidente Dilma não interferir, as fontes disseram que uma alta de juros é desnecessária uma vez que o aprofundamento da recessão, que custou o emprego de 1,5 milhão de brasileiros no último ano, eventualmente aliviará a inflação.
"Nossa preocupação é que uma alta nas taxas de juros agora não tenha efeitos sobre a inflação, mas tenha efeitos colaterais sobre a economia", disse uma fonte o Palácio do Planalto, na condição de anonimato.
"Não temos dúvidas que o Banco Central vai subir a taxa, mas achamos que é um remédio muito forte", disse a fonte.
A tensão entre o governo e o BC surgiram no primeiro mandato da presidente Dilma, entre 2011 e 2014, quando os gastos públicos aumentaram, mas diminuiu conforme o governo freou os gastos no ano passado.
A presidente tem insistido que manterá a austeridade fiscal defendida pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, que foi substituído em dezembro por Nelson Barbosa.
Barbosa apoia um ajuste fiscal mais gradual e está em negociações com bancos públicos para abrir novas linhas de crédito.
"Se essas medidas se materializam, vão diminuir a eficácia da política monetária e voltaríamos com as contradições que já conhecemos do primeiro mandato", disse a sócia da Tendências consultoria Alessandra Ribeiro
A presidência e o BC não comentaram o assunto.
O BC tem claramente sinalizado que outro ciclo de altas é praticamente inevitável para cumprir a promessa de levar a inflação de volta à meta em 2017.
Manter os juros na próxima semana poderia prejudicar a credibilidade do BC e levaria a volatilidade nos mercados, segundo analistas.
"O BC se colocou nessa posição ao sinalizar claramente o aumento", disse o sócio da consultoria 4E Juan Jensen. "Se não começar a alta agora, vai ficar a impressão de intervenção política."