Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central avalia que a inadimplência mais alta neste ano trará consequências para o balanço dos bancos, com aumento das provisões e achatamento de margens, cenário que deverá afetar especialmente as instituições públicas, segundo Relatório de Estabilidade Financeira divulgado nesta quinta-feira.
No documento, o BC ressaltou que as instituições já elevaram as provisões para os créditos duvidosos no segundo semestre de 2015, preparando-se para cenário adverso, com perspectiva de baixo crescimento do crédito e de aumento dos atrasos nos pagamentos.
"A inadimplência mais elevada implicará maiores despesas com provisões, acarretando queda das margens líquidas de intermediação e crédito, pressionando a rentabilidade do sistema, especialmente nos bancos públicos, por carregarem em seus portfólios maior proporção de linhas de crédito de menor margem", disse o documento.
Em coletiva de imprensa, o diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, disse a taxa de inadimplência continuará subindo, mas não de forma expressiva.
"A gente espera, evidentemente, que a inadimplência continue crescendo, mas não esperamos nada explosivo, nenhuma ruptura, disse. "O que a gente vê hoje no mercado de crédito é que não há apetite dos bancos, nem públicos, nem privados, para ampliar crédito. Não há demanda também", completou.
Segundo o BC, o cenário de derrocada da economia, com juros elevados e a deterioração no mercado de trabalho e no nível de confiança de empresas e famílias, começou a se refletir "de maneira mais pronunciada" nos indicadores de crédito no segundo semestre do ano passado.
A resposta das instituições financeiras ao cenário mais difícil se deu pelo aperto na concessão de novos empréstimos no período, sendo que os bancos privados aumentaram "de modo significativo" a cobertura de provisões para a inadimplência.
Para a autoridade monetária, a perspectiva de baixo crescimento da concessão de crédito vai continuar reduzindo a participação do crédito nos resultados dos bancos. Com isso, as receitas de serviços, seguros e cartões devem ganhar importância do lucro líquido das instituições.
O BC também destacou que os ganhos com eficiência tendem a diminuir, pois "há um bom tempo" os bancos têm empreendido esforços nesse sentido.
CÂMBIO E LAVA JATO
O BC apontou que a exposição das empresas à moeda estrangeira sem mecanismos de proteção identificados passou de 2,4 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em junho de 2015 para 3,1 por cento no último mês do ano, refletindo "essencialmente" o avanço do dólar frente ao real no período. Segundo o BC, o grupo de devedores que não possui proteção cambial relevante e conhecida é restrito.
O BC informou ainda que "seguem como fatores de atenção contínua" os efeitos nas instituições do sistema financeiro decorrentes do aumento do risco de crédito das empresas investigadas na operação Lava Jato, bem como os setores e respectivas cadeias produtivas mais vulneráveis ao cenário econômico".
Apesar das ressalvas, para o BC a liquidez no sistema financeiro se manteve suficiente no último semestre, e que a solvência seguiu em patamar elevado no período. Destacou ainda que, em situações de estresse, o sistema continuou mostrando capacidade de suportar choques de cenários adversos, como mudanças abruptas nos juros e câmbio.