Por Daniel Trotta e Lesley Wroughton
HAVANA (Reuters) - O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, declarou uma nova era nas relações de Estados Unidos e Cuba ao comemorar a restauração dos laços diplomáticos em Havana nesta sexta-feira, mas também exortou uma mudança política na ilha, dizendo aos cubanos que devem ser livres para escolher seus líderes.
Primeiro secretário de Estado norte-americano a visitar Cuba em 70 anos, Kerry presidiu uma cerimônia de hasteamento da bandeira dos EUA na embaixada recém-reaberta de seu país.
O evento no edifício próximo da praia foi outro passo simbólico no caminho aberto em dezembro passado, quando o presidente norte-americano, Barack Obama, e seu colega cubano, Raúl Castro, anunciaram que iriam buscar o reatamento diplomático, a reabertura das embaixadas e a normalização dos laços.
Kerry deixou claro que, apesar do reatamento histórico entre os ex-inimigos da Guerra Fria, Washington irá continuar a pressionar por uma reforma democrática.
"Continuamos convencidos de que o povo de Cuba estaria mais bem servido por uma democracia genuína, na qual as pessoas são livres para escolher seus líderes", disse o diplomata, falando em um país no qual o Partido Comunista é a única sigla legal, a mídia é controlada com rigidez e a dissidência política é reprimida.
"Continuaremos a exortar o governo cubano a cumprir suas obrigações nas convenções de direitos humanos Interamericana e da Organização das Nações Unidas (ONU) – obrigações compartilhadas pelos Estados Unidos e todos os outros países das Américas", declarou Kerry.
Suas palavras foram traduzidas para o espanhol e transmitidas ao vivo na televisão estatal cubana.
Kerry se manifestou em um pódio do lado de fora da representação momentos antes de fuzileiros navais dos EUA hastearem o estandarte de sua nação no local pela primeira vez em 54 anos.
Os comentários de Kerry foram respondidos pelo ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, que defendeu o governo comunista em uma conferência de imprensa conjunta e criticou os Estados Unidos em matéria de direitos. "Temos profundas diferenças em segurança nacional, direitos humanos e modelos políticos", disse Rodríguez.
Cuba vem defendendo seu estilo de governo diante da hostilidade e da pressão por mudanças vindas dos EUA desde a revolução de 1959 que colocou Fidel Castro no poder.
Obama, democrata que recebeu críticas severas de seus adversários republicanos e de alguns membros de seu partido por causa de sua mudança de política em relação a Cuba, afirmou que a reaproximação se deu em parte porque décadas de esforços para forçar uma transformação isolando a ilha não funcionaram.
Três fuzileiros navais aposentados que haviam recolhido a bandeira dos EUA em 1961 participaram da cerimônia entregando uma nova flâmula à Guarda Colorida dos Fuzileiros. O hasteamento foi recebido com aplausos e gritos da plateia de dignitários norte-americanos e cubanos e defensores de longa data do reatamento de relações entre os dois vizinhos, e também de pessoas que assistiam de sacadas próximas.
O acontecimento se deu quase quatro semanas depois de EUA e Cuba renovarem formalmente as relações diplomáticas e promoverem suas missões a embaixadas. Enquanto os cubanos celebraram com um hasteamento de bandeira em Washington no dia 20 de julho, os norte-americanos esperaram até Kerry poder viajar a Havana.
(Reportagem adicional de Marc Frank)