BRASÍLIA (Reuters) - A agência de classificação de risco Moody's chamou atenção nesta sexta-feira para a "severa contração" econômica do Brasil, afirmando que a nota de crédito do país está sendo pressionada pelos altos níveis de gastos obrigatórios do governo.
"A dinâmica de crescimento vai permanecer fraca nos próximos anos, aumentando a pressão sobre a política fiscal", disse o vice-presidente e analista sênior da Moody, Samar Maziad.
"Além disso, esperamos que as taxas de juros permaneçam elevadas em termos reais, tornando dívida menos barata", completou.
O relatório desta sexta-feira chega após o governo federal ter divulgado nesta semana que quer aval do Congresso Nacional para poder fechar o ano com déficit primário de até 96,65 bilhões de reais neste ano, de olho na contínua queda na arrecadação e em meio a apelos políticos para dar menos foco ao ajuste fiscal e mais à recuperação da economia. [nL2N16V2CT
"A classificação de crédito do país também está sob pressão dos altos níveis de gastos obrigatórios do governo", disse a Moody's.
No fim de fevereiro, a agência retirou o selo de bom pagador internacional do Brasil ao rebaixar o rating do país em dois degraus, indicando que novos cortes poderiam vir ao mudar a perspectiva da nota para negativa, citando o ambiente econômico e político desfavorável do país.
Com a investida, a nota de crédito do país foi a "Ba2", ante "Baa3". A agência foi a última das grandes a rebaixar o grau de investimento do país, após Standard & Poor's e Fitch terem tomado uma decisão nesse sentido já no ano passado.
De lá para cá, as expectativas do mercado para o desempenho da economia pioraram, enquanto a crise política ganhou contornos críticos com o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso.
"A contração severa, que foi precedida por vários anos de crescimento abaixo da tendência, tem prejudicado a força econômica subjacente do Brasil, apesar economia grande e diversificada do país, disse a Moody's.
De acordo com o mais recente boletim Focus divulgado pelo Banco Central, a expectativa para este ano é de uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,60 por cento, após um tombo de 3,80 por cento em 2015. Com isso, a economia brasileira caminha para a pior recessão em dois anos desde que os registros começaram, em 1901.
Em relatório divulgado nesta sexta, a Moody's também afirmou que a decisão da Petrobras (SA:PETR4) de diminuir significativamente seu plano de investimentos no período de 2015 a 2019 está pesando sobre a economia, já que a estatal responde por cerca de 10 por cento dos investimentos totais no país.
(Por Marcela Ayres)