Por Michele Kambas e Karolina Tagaris
ATENAS (Reuters) - O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, defendeu nesta terça-feira o acordo de resgate fechado na cúpula da zona do euro dizendo que o "acordo ruim" foi o melhor disponível dadas as circunstâncias.
"Estou assumindo completamente minhas responsabilidades, por erros e omissões, e pela responsabilidade de assinar um texto no qual eu não acredito, mas que eu sou obrigado a implementar", disse Tsipras em entrevista à televisão pública.
Em uma entrevista de uma hora que misturou uma defesa de sua abrupta mudança de curso sobre o acordo de resgate com farpas direcionadas aos parceiros europeus, Tsipras disse que tinha lutado uma batalha para não cortar salários e benefícios previdenciários.
Ele acrescentou que o ajuste fiscal acertado no acordo era mais leve do que os ajustes do passado e que a Grécia precisa se manter firme no ajuste fiscal que o acordo prevê.
Tsipras também afirmou que apesar de alguns países terem resistido em dar novos recursos à Grécia --Finlândia e Holanda, em particular-- eles cederam no final.
O premiê, de 40 anos, enfrenta forte descontentamento dentro de seu partido, o Syriza, sobre o acordo. No entanto, ele disse que pretende completar seu mandato de quatro anos, descartando eleições antecipadas.
"O pior que um capitão pode fazer enquanto conduz um barco numa tempestade, por mais difícil que seja, é abandonar o leme", disse.
Questionado sobre quando os bancos gregos vão reabrir, após estarem fechados há mais de duas semanas, quando controles de capital foram impostos, ele disse: "Quando os bancos vão abrir vai depender de quando nós teremos a ratificação final do acordo".
O Banco Central Europeu (BCE), que estabeleceu um teto à liquidez emergencial aos bancos gregos, "caminharia gradualmente para elevá-lo", permitindo um afrouxamento gradual dos controles de capital.
"Não será de um dia para o outro. Haverá um retorno gradual à normalidade, começando com um aumento nos saques."
Uma das provisões do acordo com os credores é reservar 25 bilhões de euros para recapitalização dos bancos do país.
Tsipras disse não acreditar que os bancos vão precisar desse total. "25 bilhões é mais do que suficiente. Acredito que os bancos vão precisar entre 10 bilhões e 15 bilhões de euros".
"A dura verdade é que esta via de mão única foi imposta a nós", disse Tsipras. Os credores enviaram a mensagem de que em um país sob programa de resgate não há motivo em realizar eleições, ele disse.
No entanto, ele insistiu que as coisas teriam sido piores sem um acordo.
"Um calote desordenado levaria não somente a um colapso no sistema bancário e ao desaparecimento de todos os depósitos, mas forçaria a imprimir uma moeda que seria drasticamente desvalorizada porque não há reservas para apoiá-la", disse. "Um pensionista que tinha 800 euros teria 800 dracmas e isso duraria somente três dias, não um mês".
Tsipras disse que faria o possível para manter a unidade em seu partido, mas que a prioridade era garantir um acordo e a estabilidade da economia e do sistema bancário antes de lidar com questões partidárias.
Questionado se expulsaria parlamentares rebeldes se eles votarem contra o acordo de resgate, ele disse que expulsões não fazem parte da cultura do partido.