Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A decisão unânime do Comitê e Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa básica Selic em 10,50% ao ano abre espaço para uma recuperação dos ativos brasileiros na quinta-feira, conforme profissionais ouvidos na noite desta quarta-feira pela Reuters.
A expectativa é de que as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) e o dólar caiam, enquanto o Ibovespa encontre um ambiente mais favorável para avançar, disseram eles.
Essa percepção positiva para a quinta-feira está apoiada principalmente no fato de que todos os nove dirigentes do Banco Central votaram pela manutenção da Selic nesta quarta-feira, ao contrário do que ocorreu na reunião anterior do Copom, em maio, quando cinco integrantes votaram por corte de 25 pontos-base e quatro defenderam redução de 50 pontos-base.
A unanimidade nos votos e a manutenção da Selic vieram dentro do que o mercado demandava.
O economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, destacou ainda o fato de o BC indicar em seu cenário alternativo, no qual a Selic fica constante em 10,50%, que a projeção de inflação para 2025 está em 3,1% -- muito próxima da meta de 3% perseguida pela instituição. No cenário de referência, com trajetória da Selic extraída do relatório Focus, a projeção de inflação é de 3,4%.
“Isso sugere que o BC ficará parado monitorando por um tempo e eventualmente, entre o fim deste ano e o segundo trimestre do ano que vem, pode ter uma janela para voltar a cortar a Selic”, avaliou Serrano. “E nos dois cenários que o BC apresentou, a régua para subir juros também é alta. Então, o mercado tem que limpar prêmios de curto prazo na curva”, acrescentou.
Serrano afirma que, caso não surjam novos fatores negativos no exterior ou mesmo no Brasil, a tendência é de queda das taxas na curva a termo, principalmente nos contratos de curto prazo. Nos vencimentos longos, a queda pode ser menor em função da preocupação persistente com o equilíbrio fiscal.
Para Victor Scalet, estrategista Macro da XP (BVMF:XPBR31), haverá “alguma descompressão” dos prêmios de risco, justamente porque não houve decisão dividida ou que pudesse ser interpretada como sinal de que o BC estava cedendo às pressões políticas.
“Tirando isso um pouco da mesa, tanto o DI deve causar o fechamento de taxas quanto (deve haver) algum alívio do dólar. Agora, o tamanho é difícil de estimar, porque não é conta sobre política monetária, é redução do prêmio de risco”, ponderou.
“Para o DI, espero queda de 10 ou 15 pontos-base no que a gente chama de ‘barriga da curva’, até o (contrato para) janeiro 2026. Para o dólar, (espero) alguma abertura um pouco melhor que os pares”, acrescentou Scalet.
Para o economista-chefe na Way Investimentos, Alexandre Espirito Santo, o fato de o BC ter citado no comunicado da decisão que optou por “interromper” o ciclo de cortes -- e não por “encerrar” -- indica de fato que a instituição pode voltar em algum momento a reduzir a Selic.
“Também foi maravilhoso ter sido por unanimidade, porque houve muito ruído ontem (terça-feira)”, afirmou, lembrando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas duras ao presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Espirito Santo pontuou que no fim da sessão desta quarta, com a proximidade do Copom, já houve certa melhora dos ativos brasileiros, o que deve continuar na quinta.
“No fim do dia o dólar já tinha zerado e os juros futuros haviam desacelerado. A bolsa fechou com o índice alto. Isso é prenúncio de que o dia amanhã será de menos estresse”, completou.