SÃO PAULO (Reuters) - A agência de classificação de riscos Standard & Poor's retirou o selo de bom pagador do Brasil nesta quarta-feira, ao cortar o rating do país para "BB+" ante "BBB-", após o governo brasileiro mudar o cenário fiscal para 2016, com uma projeção de déficit primário.
Além de retirar do Brasil o grau de investimento, a S&P sinalizou que pode colocar o Brasil ainda mais para dentro do território especulativo ao manter a perspectiva negativa para a nota brasileira.
Veja abaixo comentários sobre o rebaixamento do crédito soberano do país:
JOSÉ FRANCISCO GONÇALVES, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO FATOR
"Mesmo que tal decisão já estivesse na conta, o mercado deve reagir mal. Todo mundo vai olhar com dúvidas sobre o efeito na parte fiscal, se o governo irá se sentir mais pressionado a fazer alguma coisa, a precipitar alguma medida."
"O mercado pode olhar (a decisão da S&P) como pressão para cortar despesa, mas também algo que apresse no que diz respeito a arrumar impostos. A avaliação deve ser ambígua. Mas certamente dá força ao Congresso Nacional nas discussões."
ROBERTO PADOVANI, ECONOMISTA-CHEFE, VOTORANTIM CORRETORA:
"Após o governo ter enviado ao Congresso previsão orçamentária com déficit, (o rebaixamento) era apenas uma questão de tempo. A crise política levou à descoordenação na área econômica."
"Mercados vão obrigatoriamente ter uma reação forte. Vai demorar para o país recuperar a condição de grau de investimento. Entramos numa espiral complicada que não sabemos quando acaba."
PAULO PETRASSI, SÓCIO-GESTOR, LEME INVESTIMENTOS
"O fato principal foi o Orçamento negativo, foi a gota d'água. O Brasil vai ter que aprender a lição: não é só ter alguém como o Levy se ele está rodeado de pessoas que não pensam igual a ele."
"Muita gente diz que o downgrade já está no preço, mas tem aplicação que necessita do investment grade para permanecer no país e essas vão fugir. O reflexo nos mercados amanhã vai ser terrível, e a curva (de juros futuros) deve empinar."
"O primeiro passo é o BC não ficar atrás do mercado: ele precisa voltar um pouco atrás e deixar mais aberta a possibilidade de mais altas (da Selic), porque se o dólar for a 4 reais, ele vai precisar dar mais altas."
"O problema é que subir juros com o fiscal como está é enxugar gelo: ele precisa do respaldo fiscal. E é cortar gastos, não subir impostos."
ALEXANDRE SCHWARTSMAN, SÓCIO DA SCHWARTSMAN & ASSOCIADOS:
"Não tenho a menor dúvida que o motivo foi a questão fiscal. O governo já tinha reduzido a trajetória para superávit primário e depois veio com uma projeção de déficit.
"Talvez não tenha grandes reações do mercado porque já era muito esperado, já estava precificado."
DEPUTADO MENDONÇA FILHO (DEM/PE), LÍDER DO DEM NA CMARA:
"É resultado da tragédia econômica, da irresponsabilidade praticada pela administração do PT."
SENADOR ALOYSIO NUNES (PSDB-SP)
"É muito ruim. É uma consequência, já prevista, da irresponsabilidade com a qual a presidente Dilma conduziu seu primeiro mandato."
(Reportagem Paula Arend Laier, Aluísio Alves, Flavia Bohone, Bruno Federowski, em São Paulo; e de Marcela Ayres e Maria Carolina Marcello, em Brasília)