Por Arno Schuetze e John O'Donnell
FRANKFURT (Reuters) - A Wirecard entrou em colapso nesta quinta-feira, com dívidas de quase 4 bilhões de dólares após revelar um buraco no balanço que o auditor EY disse ser resultado de sofisticada fraude global.
A companhia de pagamentos entrou com pedido de insolvência dizendo que, com 1,3 bilhão de euros de empréstimos vencidos em uma semana, sua sobrevivência "não está garantida".
A implosão da Wirecard veio sete dias após a EY, auditora por mais de uma década da empresa, recusar-se a assinar as contas de 2019, forçando o presidente Markus Braun a admitir que 2,1 bilhões de dólares de caixa provavelmente não existiam. Braun foi preso na segunda-feira e libertado sob fiança de 5 milhões de euros.
"Há indicações claras de que essa foi uma fraude elaborada e sofisticada envolvendo várias partes do mundo", afirmou a EY, adicionando que, ao concluir a auditoria de 2019, recebeu falsas confirmações, o que relatou às autoridades. A Wirecard se recusou a comentar após a declaração da EY.
A empresa de tecnologia financeira é a primeira do índice alemão de ações DAX a falir, apenas dois anos após virar uma das 30 principais empresas listadas, valendo 28 bilhões de dólares.
Os credores têm pouca esperança de recuperar os 3,5 bilhões de euros devidos.
A quebra de uma das empresas de tecnologia de ponta da Europa abalou o sistema financeiro alemão, com Felix Hufeld, chefe do órgão regulador BaFin, chamando o episódio de desastre total.
As ações da Wirecard, suspensas antes de um anúncio anterior de que buscaria proteção aos credores, caíram 98% desde que a EY questionou suas contas na última quinta-feira.
A EY enfrenta uma onda de litígios em um desastre que gerou comparações com a fracassada supervisão de Arthur Andersen da empresa de energia norte-americana Enron.
O escritório de advocacia Schirp & Partner disse que abirirá ações coletivas contra a EY em nome de acionistas e credores.
A nova gestão da Wirecard negociava com credores, mas desistiu nesta manhã "devido à insolvência iminente e ao endividamento excessivo".
Uma fonte próxima de negociações disse que, embora a empresa tenha um núcleo saudável, ela falsificou dois terços das vendas, por isso não há como pagar todas as suas dívidas.
A ascensão do Wirecard, fundada em 1999, foi perseguida por denúncias de que suas receitas e lucros haviam sido aumentados por meio de transações falsas.
Braun rebateu críticos por anos antes de finalmente chamar a KPMG no fim de 2019 para fazer uma investigação independente. A KPMG não conseguiu verificar 1 bilhão de euros em saldos em dinheiro e centenas de milhões em adiantamentos a lojistas.