Por Jamie McGeever
BRASÍLIA (Reuters) - As condições para um crescimento econômico vívido no Brasil raramente foram melhores, se é que o foram algum dia, o que faz de 2020 um ano "tudo ou nada" para a maior economia da América Latina --que há tempos tem decepcionado.
O estímulo monetário inédito, os passos largos na agenda de reformas do governo para assumir o controle das finanças públicas e abrir a economia e uma taxa de câmbio na mínima recorde devem ajudar a impulsionar a expansão.
Um crescimento contínuo já vem tarde. A economia tem sofrido para se expandir muito acima de 1% ao ano em cada um dos três anos transcorridos desde a crise de 2015-2016, na pior recuperação de uma recessão já registrada.
Na quarta-feira, o Banco Central cortou a taxa de juros para uma nova mínima histórica de 4,50% ao ano. Agora as taxas de juros reais, descontada a inflação, estão abaixo dos 2%, um dos níveis mais baixos em duas décadas e quase impensável poucos anos atrás.
Falando francamente, se a economia não ganhar ímpeto agora, quando o fará?
"Está tudo aí... mas 2020 será um ano muito complicado. Embora algumas pendências tenham sido riscadas, não vejo uma história convincente", disse Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics, em Washington.
"Não existe um dinamismo verdadeiro no consumo, no investimento ou no lado externo, e o gasto do governo também despencou. Então de onde virá o crescimento?"
Investidores otimistas com o mercado de ações do Brasil dizem que o ganho de tração da economia virá da demanda doméstica e do investimento mais robustos conforme o setor privado substitui o setor público como motor do crescimento.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, fala com frequência do "crowding in" do investimento do setor privado nos próximos anos. "Crowding in" é uma expressão diz respeito ao estímulo ao investimento pelo setor privado.
As apostas são altas. O final do primeiro ano do presidente Jair Bolsonaro no poder mostra que o período de lua de mel acabou, e a recuperação de sua popularidade depende em grande parte de o crescimento acelerar e o desemprego cair.
Drausio Giacomelli, chefe de pesquisas de mercados emergentes do Deutsche Bank em Nova York, está bastante otimista com o Brasil, mas alerta que 2020 será um "ano do tudo ou nada".
PRONTO PARA AVANÇAR
Autoridades do Ministério a Economia têm atribuído o desempenho lento da economia durante a maior parte do ano à postura de "esperar para ver" de consumidores, investidores e empresários em relação ao novo governo.
Após o medo de uma nova recessão no início do ano, a economia cresceu 0,6% no terceiro trimestre sobre o segundo --ritmo melhor que o esperado e o mais rápido em 18 meses-- graças à aceleração dos investimentos empresariais pelo segundo trimestre seguido.
Pesquisa Datafolha desta semana mostrou que a melhora econômica está elevando o índice de aprovação de Bolsonaro, que andava mais baixo do que o de qualquer presidente brasileiro a esta altura do mandato.
A maioria dos economistas está estimando um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2% ou mais em 2020, o que provavelmente será cerca de duas vezes maior que o deste ano.
O governo projeta expansão de 2,3%, com viés de alta.
"As condições essenciais para um crescimento contínuo foram estabelecidas em 2019. O Brasil está pronto para um novo ciclo de desenvolvimento", disse o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues.
Com uma taxa de juros de 4,50% e uma inflação pouco acima dos 3%, empresários estão lentamente contraindo empréstimos para investir e consumidores estão sendo incentivados a tomar empréstimos e gastar. A esperança é que essa tendência se acelere no ano que vem.
DÚVIDAS EMERGENTES
Na quarta-feira, a agência de classificação de risco S&P elevou a perspectiva para a nota de crédito soberano do Brasil de neutra para positiva, um passo em direção a uma eventual promoção que levaria o país de volta ao grau de investimento.
Mas o desemprego de 11,6% continua alto, e provavelmente só recuará gradualmente. Mais de 12 milhões de brasileiros estão sem trabalho, o número de subempregados é cerca de duas vezes essa contagem e a quantidade de empregos informais no setor privado atingiu um recorde de 11,9 milhões, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Monica de Bolle e outros analistas observam que a melhora do mercado está vindo com um preço: muitos dos novos empregos são de baixo salário, baixa qualificação, informais e precários, o que não aponta para uma disparada do consumo.
E especulações de investimento empresarial e de empresas estrangeiras e investidores colocando dinheiro no Brasil continuam sendo essencialmente isso: especulações. Uma elevação concreta do investimento ainda está para se materializar.