Por Ricardo Brito e Rodrigo Viga Gaier
BRASÍLIA (Reuters) - Em meio à repetida pressão dos presidentes da Câmara e do Senado a favor do pagamento de um novo auxílio aos vulneráveis, o presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta segunda-feira que a questão está em estudo, ressaltando que as ações terão de ser tomadas tendo em mente a preocupação com a dívida pública e com as reações do mercado.
Segundo afirmou uma fonte do governo à Reuters, o que está sendo avaliado no momento é um benefício de 200 reais a ser pago durante três meses a cerca de 30 milhões de vulneráveis que não estão incluídos no programa Bolsa Família.
"Eu acho que vai ter, vai ter uma prorrogação", disse ele, em entrevista ao programa Brasil Urgente, do jornalista José Luiz Datena.
Pouco antes, em cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro já admitia que o auxílio está sendo discutido.
"Estamos negociando com Onyx Lorenzoni, Paulo Guedes, (Rogério) Marinho, entre outros, a questão de um auxílio ao nosso povo que está ainda em uma situação bastante complicada", disse o presidente.
"Sabemos que estamos, Paulo Guedes, no limite do nosso endividamento e devemos nos preocupar com isso", emendou. "Temos um cuidado muito grande com o mercado, com os investidores e com os contratos, que devem ser respeitados. Nós não podemos quebrar nada disso, caso contrário não teremos como garantir que o Brasil será diferente lá na frente."
Mais cedo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse esperar uma solução para a questão do auxílio ainda nesta semana mas, em declaração que preocupou investidores do mercado, evitou fazer uma relação direta entre a adoção do benefício e a votação das propostas do "protocolo fiscal" do governo.
"A emergência e urgência para a assistência social não pode esperar", disse ele, em entrevista à GloboNews.
Analistas já precificaram o pagamento de algum tipo de auxílio este ano, mas a expectativa é que a iniciativa seja casada com a aprovação das PECs do pacto federativo, que preveem gatilhos para a contenção de despesas. O próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem defendido que o país não pode adotar estímulos sem medidas compensatórias, sob o risco de as medidas gerarem efeito contracionista.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse nesta segunda-feira que irá trabalhar por solução "viável" para a concessão de auxílio emergencial para os vulneráveis dentro da regra do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas públicas à variação da inflação. Lira se reuniria com o ministro Guedes no início da noite para discutir a pauta legislativa econômica.
Segundo o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), já há um acordo entre Bolsonaro e os presidentes da Câmara e do Senado para a criação do auxílio.
Em reação às declarações do governo e do Congresso, o dólar zerou boa parte da queda de mais cedo e fechou esta segunda-feira com apenas um leve recuo, com investidores colocando no preço da moeda prêmio de fiscal.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello, Lisandra Paraguassu e José de Castro)