Por Jessie Pang e Aleksander Solum
HONG KONG (Reuters) - Milhares de manifestantes bloquearam estradas e transportes públicos para o aeroporto de Hong Kong neste domingo, em uma tentativa de chamar a atenção do mundo para sua luta pela democracia na cidade controlada pela China, que tem enfrentado sua maior crise política em décadas.
Os aviões continuavam a decolar e pousar, com atrasos, mas os trens foram suspensos e as estradas próximas do aeroporto interditadas, com manifestantes derrubando carrinhos e erguendo barricadas no aeroporto e na cidade vizinha de Tung Chung.
Alguns passageiros foram forçados a chegar a pé até o aeroporto, arrastando suas bagagens.
A estação de metrô MTR em Tung Chung foi fechada, e os manifestantes quebraram câmeras de vigilância e lâmpadas com postes de metal e catracas de estações depredadas. A polícia entrou e fez várias prisões.
O aeroporto de Chek Lap Kok, construído em uma pequena ilha afastada no período final do domínio colonial britânico, é um dos mais movimentados e eficientes do mundo, ao qual se chega por uma série de pontes que costumam ter trânsito intenso.
"Se interrompermos a operação do aeroporto, mais estrangeiros vão ler as notícias sobre Hong Kong", disse um manifestante de 20 anos, pedindo para não ser identificado.
Manifestantes vestidos de preto chegaram o aeroporto há três semanas, bloqueando o terminal em confrontos às vezes violentos com a polícia e levando alguns voos a serem cancelados ou adiados.
A polícia disse neste domingo que manifestantes atiraram postes de ferro, tijolos e pedras na linha férrea perto da estação do aeroporto. No início da noite, manifestantes haviam deixado o aeroporto, mas continuavam em Tung Chung.
"Não temos ideia de como sair. Estamos presos", disse um manifestante, enquanto outros procuravam ônibus e balsas para voltar para casa.
Polícia e manifestantes entraram em conflito durante a noite, em alguns dos episódios mais violentos desde que as manifestações começaram há mais de três meses, em protesto contra a intervenção de Pequim sob a autonomia concedida ao território quando foi devolvido à China em 1997.
A China nega a acusação de intromissão e diz que Hong Kong é um assunto interno. O governo denunciou os protestos e alertou sobre os danos à economia.
O número de turistas despencou nas últimas semanas, e feiras internacionais foram canceladas no momento em que o território enfrenta sua primeira recessão em uma década.
A China está ansiosa para conter a agitação antes do 70º aniversário da fundação da República Popular da China em 1º de outubro. Ela acusou potências estrangeiras, particularmente os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, de fomentar a agitação.
Várias centenas de manifestantes também se reuniram do lado de fora do consulado britânico no centro de Hong Kong, agitando bandeiras do Reino Unido e cantando "Deus salve a rainha".
VIOLÊNCIA NO METRÔ
Partes do sistema de metrô pararam quando os conflitos se espalharam no sábado, com a televisão mostrando pessoas sendo espancadas enquanto se escondiam no chão atrás de guarda-chuvas.
A polícia disse que prendeu 63 pessoas com idades entre 13 e 36 anos.
A Anistia Internacional disse que a violência no metrô precisa ser investigada.
Os protestos ocorreram no quinto aniversário da decisão da China de conter reformas democráticas e descartar o sufrágio universal em Hong Kong.
A agitação começou em meados de junho, alimentada pela indignação com um projeto de extradição agora suspenso que permitiria que as pessoas na cidade fossem enviadas à China para julgamento em tribunais controlados pelo Partido Comunista.
Mas a turbulência evoluiu ao longo de 13 semanas para se tornar uma demanda generalizada por mais democracia.
Os manifestantes anunciaram uma greve geral na segunda-feira, mas não ficou claro de imediato quantas pessoas deverão participar.
(Reportagem de Twinnie Siu, Marius Zaharia, Farah Master, Ebrahim Harris, Aleksander Solum, Joyce Zhou, Donny Kwok, Yoyo Chow, Kai Pfaffenbach, Danish Siddiqui, Noah Sin e Anne Marie Roantree)