Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) -A solução para o problema dos juros elevados e da inadimplência do cartão de crédito no Brasil deve passar pela extinção do crédito rotativo, disse nesta quinta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Em audiência pública no Senado, Campos Neto afirmou que, com esse desenho em elaboração, as faturas não pagas iriam direto para o sistema de crédito parcelado do cartão, com uma taxa mensal de juros que ficaria próxima a 9%.
A taxa de 9% ao mês corresponde a 181% ao ano. Hoje, os juros do rotativo estão em 437% ao ano, enquanto o parcelado do cartão está em 196% ao ano.
Os bancos, incluindo Bradesco (BVMF:BBDC4), Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4) e Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), argumentam que os clientes não chegam a ficar um ano no rotativo pela própria legislação que obriga as instituições financeiras a ofertarem outras linhas de crédito para os clientes. O vice-presidente de gestão financeira do BB, Marco Geovanne da Silva, por exemplo, afirmou nesta quinta-feira que os clientes, em média, ficam 18 a 20 dias no rotativo antes de serem direcionados a outras linhas mais baratas.
O presidente do BC ressaltou que a solução, que será apresentada em até 90 dias, está sendo construída em diálogo com o deputado Elmar Nascimento (União-BA), relator do projeto de lei do Desenrola, programa de renegociação de dívidas das famílias.
Segundo Campos Neto, a medida ainda deve prever a criação de uma tarifa para desincentivar parcelamentos sem juros com cartão de crédito.
"Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que ele fique um pouco mais disciplinado, fazer de uma forma bem faseada para não afetar o consumo", afirmou, destacando que os cartões de crédito representam 40% do consumo no país.
Na apresentação, o presidente do BC disse que cartões de crédito são um "grande problema" no Brasil, após uma explosão nas emissões nos últimos anos.
A taxa de inadimplência no rotativo do cartão está atualmente em cerca de 49%. De acordo com Campos Neto, o patamar não tem paralelo no mundo.
Ele enfatizou que eventual alternativa de estabelecer um limite de juros para o cartão de crédito poderia ter efeito negativo e gerar uma retirada de circulação de cartões pelas instituições financeiras.
(Edição Alberto Alerigi Jr.)