Por Eduardo Simões e Amanda Perobelli
SÃO PAULO (Reuters) - A cidade de São Paulo registrou na última terça-feira 420 sepultamentos em um único dia, o maior número de enterros já registrado desde o início do monitoramento diário realizado por causa da pandemia de Covid-19, em um momento em que a prefeitura já adotava medidas no setor funerário, como realização de enterros noturnos e aceleração das exumações em um dos maiores cemitérios da cidade.
No cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da cidade, estão sendo realizados somente enterros de crianças e de adultos que têm jazigo no local para que os funcionários realizem a exumação de corpos, abrindo assim mais espaço no cemitério.
A medida, de acordo com a Secretaria de Subprefeituras, responsável pelo Serviço Funerário do município, está dentro do cronograma previsto no plano de contingência criado por causa da pandemia de Covid-19.
A secretaria negou a informação dada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep) de que o cemitério havia sido fechado para a realização das exumações.
"O cemitério Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, não foi e não será fechado. O equipamento continua funcionando para sepultamentos dos munícipes que possuem túmulos --concessão-- e para enterros de crianças", afirmou a secretaria em nota.
"A informação de que o cemitério fará apenas exumação para abertura de novas vagas é improcedente, pois trata-se de um serviço necessário, realizado de forma regular e segue, rigorosamente, os critérios que constam da legislação em vigor."
A Reuters esteve nesta quinta-feira no cemitério de Vila Nova Cachoeirinha. Uma pessoa que não quis se identificar, mas que está a par do funcionamento do local, disse que a expectativa é que a restrição aos sepultamentos de adultos que não têm jazigo no cemitério deva durar até domingo. Uma segunda fonte, que também falou sob condição de anonimato, afirmou que 1 mil exumações devem ser realizadas enquanto as restrições estiverem vigentes.
O Sindsep divulgou um comunicado dirigido às agências funerárias paulistanas e assinado pela Diretoria da Divisão de Atendimento de Convênios e Funerais no qual afirma que os enterros de adultos no cemitério "estão condicionados à prévia autorização da administração do cemitério, preferencialmente por escrito".
A restrição aos sepultamentos de pessoas que não têm jazigo no cemitério de Vila Nova Cachoeirinha acontece quando o Brasil vive o pior momento da pandemia de Covid-19, que somente na cidade de São Paulo já matou 22.068 pessoas, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do município.
Também diante do aumento dos enterros em meio à pandemia, a prefeitura decidiu, na semana passada, iniciar sepultamentos noturnos em quatro cemitérios da cidade: Vila Nova Cachoeirinha, Vila Formosa e São Pedro, na zona leste; e São Luiz, na zona sul.
Nesses quatro locais, os enterros poderão ser feitos até as 22h. Nos demais 18 cemitérios administrados pela prefeitura, continuarão a ocorrer até às 18h.
RECORDE
A cidade registrou na terça-feira 420 sepultamentos, o maior número registrado desde o início do monitoramento diário, adotado por causa da pandemia, no dia 7 de julho. No boletim divulgado na quarta, a prefeitura havia informado 419 enterros para a data, mas o dado foi posteriormente atualizado na divulgação de quinta para 420, quando também foi informado que, na quarta, o número de enterros fora de 378.
Do dia 24 de março até a terça, dia 30, a média de sepultamentos na cidade foi de 383, número 10,7% superior à média registrada entre os dias 17 e 23 de março, de acordo levantamento da Reuters com base nos dados diários de enterros divulgados pela prefeitura.
Para o mês de março, a média até o dia 30 foi de 307 sepultamentos diários, e desde o dia 16 de março o número de enterros na capital paulista é superior a 300 por dia, de acordo com dados da prefeitura.
Ainda segundo a prefeitura, nos meses de verão a média de sepultamentos diários na cidade é de 240, subindo para uma média diária de 300 nos dias de inverno.
A Secretaria de Subprefeituras afirmou que o plano de contingência em vigor garante a capacidade de 400 enterros por dia na cidade. Caso o número diário de sepultamentos permaneça superior a 400, novas medidas serão adotadas no serviço funerário paulistano, como a contratação de mais agentes sepultadores para o período noturno e a instalação de mais dois centros logísticos, nos cemitérios de Vila Nova Cachoeirinha e São Luiz.