Por Natalia Zinets
(Reuters) - O principal negociador da Ucrânia disse nesta terça-feira que é difícil prever quando as negociações de paz podem ser retomadas devido ao cerco russo da cidade de Mariupol e do que ele descreveu como o desejo de Moscou de fortalecer sua posição por meio de uma nova ofensiva militar.
Kiev e Moscou não mantêm conversas presenciais desde 29 de março, e a atmosfera azedou com as alegações ucranianas de que tropas russas realizaram atrocidades em uma cidade perto de Kiev. Moscou nega as acusações.
Mykhailo Podolyak, principal negociador da Ucrânia, disse à Reuters que o contínuo cerco de Mariupol e o repetido fracasso das tentativas de arranjar corredores seguros para a retirada de civis ucranianos também complicaram as conversações.
"Obviamente, tendo como pano de fundo a tragédia de Mariupol, o processo de negociação se tornou ainda mais complicado", disse ele em resposta por escrito a perguntas sobre as negociações de paz.
"A Rússia renuncia desafiadoramente a qualquer manifestação de humanidade e humanismo quando se trata de certos corredores humanitários. Especialmente quando falamos de Mariupol."
Cada lado culpa o outro pelo fracasso das negociações de paz e pelo fracasso das negociações sobre corredores seguros para civis.
Podolyak disse que alguns contatos continuam online para adequar os acordos alcançados sobre garantias futuras para a segurança da Ucrânia, garantindo que estejam em conformidade com a lei internacional.
"É difícil dizer quando a próxima rodada de negociações cara a cara será possível porque os russos estão apostando seriamente (em obter ganhos) na chamada 'segunda etapa da operação especial'", disse ele.
Autoridades locais dizem que milhares de pessoas foram mortas no cerco de Mariupol. Podolyak disse que a Rússia queria esmagar os últimos combatentes em Mariupol para fins de "propaganda interna".
A Rússia nega atacar civis em sua "operação especial", que diz ter como objetivo desmilitarizar a Ucrânia e erradicar nacionalistas perigosos, e diz que os defensores de Mariupol incluem combatentes de extrema-direita. Kiev e o Ocidente descartam a posição da Rússia como pretexto para uma invasão não provocada.
Moscou acusou a Ucrânia de fingir atrocidades para minar as negociações de paz que o presidente Vladimir Putin disse em 12 de abril terem chegado a um beco sem saída.
Tropas ucranianas este mês mostraram a jornalistas cadáveres do que eles disseram ser civis mortos pelas forças russas na cidade de Bucha, nos arredores de Kiev, depois que as tropas russas recuaram. A Reuters viu cadáveres em Bucha, mas não pôde verificar independentemente quem foi o responsável pelos assassinatos.
(Reportagem de Natalia Zinets)