Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - As vendas no varejo brasileiro recuaram 0,9 por cento em março sobre fevereiro, segundo mês seguido de perdas e com resultado pior do que o esperado, encerrando o primeiro trimestre com o resultado mais fraco em 12 anos, num sinal do peso que a fraqueza econômica vem tendo sobre o setor.
O varejo fechou o período de janeiro a março com recuo acumulado no volume de vendas de 0,8 por cento na comparação anual, leitura mais fraca desde o terceiro trimestre de 2003 (queda de 4,4 por cento) e o pior resultado para um primeiro trimestre também desde 2003 (queda de 6,1 por cento).
Na comparação com março de 2014, as vendas varejistas avançaram 0,4 por cento, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.
Os resultados foram piores que as expectativas em pesquisa da Reuters, de queda de 0,35 por cento na comparação mensal e alta de 1,50 por cento sobre um ano antes.
"A queda em março reflete a perda de ímpeto da economia, com a retração da renda real disponível, desemprego e crédito escasso. Esta combinação é responsável por trazer à tona um péssimo desempenho do varejo", resumiu a consultoria Rosenberg & Associados, em nota assinada pela economista-chefe Thais Marzola.
E para destacar ainda mais a debilidade do varejo neste ano, o IBGE revisou para uma queda de 0,4 por cento as vendas de fevereiro sobre janeiro, contra recuo de 0,1 por cento divulgado antes.
RESTRIÇÕES
O IBGE informou que cinco das oito atividades pesquisadas no varejo restrito registraram queda mensal no volume de vendas em março, com destaque para móveis e eletrodomésticos (-3,0 por cento), livros, jornais, revistas e papelaria (-2,3 por cento).
Também se destacou a queda de 2,2 por cento nas vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, importante termômetro do consumo, o que segundo o IBGE reflete restrições no orçamento familiar, com busca de alternativas ou até mesmo a desistência da compra de certos produtos.
A receita nominal do varejo restrito, por sua vez, perdeu 0,4 por cento em março ante fevereiro, voltando a território negativo após dois meses seguidos de alta.
No varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, o volume de vendas caiu 1,6 por cento em março sobre fevereiro, pressionado principalmente pelo recuo de 4,6 por cento em veículos e motos, partes e peças.
Com isso, o varejo ampliado fechou o primeiro trimestre com queda acumulada de 5,3 por cento, pior resultado da série histórica para esse dado, iniciada em 2003.
"Setores como móveis e veículos estão sofrendo o impacto da restrição orçamentária, cenário econômico menos favorável, crédito mais caro e saturação do consumo desses bens", destacou a economista do IBGE Juliana Vasconcellos,
O setor varejista brasileiro vem enfrentando desde o ano passado um ambiente de inflação alta, juros elevados e deterioração da confiança do consumidor, agravado agora pela piora do mercado de trabalho.
A confiança do consumidor medida pela Fundação Getulio Vargas interrompeu em abril três meses seguidos de quedas, mas o primeiro resultado positivo do ano foi considerado insuficiente para apontar uma mudança na tendência.
Ao lado da debilidade da indústria, a fraqueza do consumo das famílias leva economistas a projetarem na pesquisa Focus do Banco Central contração econômica neste ano de 1,20 por cento.
(Reportagem adicional de Pedro Fonseca no Rio de Janeiro)